• Após saída de sexto ministro em seis meses, presidente nega ter ‘enquadrado’ Calero para ajudar aliado; mercado teme por reformas
Geddel Vieira Lima se tornou o sexto ministro a deixar o cargo em seis meses de governo Michel Temer. Ele se demitiu da Secretaria de Governo menos de 24 horas após ser divulgado o depoimento em que o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero acusa Temer de tentar “enquadrá-lo” para favorecer o aliado num caso que envolve autorização para erguer em área histórica de Salvador um arranha-céu em que Geddel comprou apartamento. “Ora vejam, quem me conhece sabe que eu não sou de sair ‘enquadrando’ ninguém. O que eu falei a ele foram coisas absolutamente normais”, disse Temer a Eliane Cantanhêde. “Não sei por que esse rapaz (Calero) reagiu dessa forma.” Sobre o substituto de Geddel, disse que terá de ser “alguém que não esteja metido com nada de nada”. O presidente do PSDB, Aécio Neves, defendeu que Calero seja investigado. A crise política afetou ontem o mercado, preocupado com a capacidade de o governo avançar nas reformas.
Geddel sai, e Temer agora busca novo articulador
• Executivo. Após ministro-chefe da Secretaria de Governo deixar o cargo, presidente nega pressão sobre Calero e diz que substituto será alguém que ‘não esteja metido em nada’
Eliane Cantanhêde – O Estado de S. Paulo
O ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, entregou ontem a sua carta de demissão menos de 24 horas após a divulgação do depoimento do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero que acusa o presidente Michel Temer de “enquadrá-lo”. A saí- da de um de seus aliados mais próximos foi a forma encontrada pelo presidente de reduzir o desgaste com o caso, que envolve a autorização para construir um arranhacéu em área de patrimônio histórico em Salvador.
Geddel é o sexto ministro a deixar o cargo em seis meses de governo Temer. O presidente está agora às voltas com a escolha de um novo nome para substituir o aliado, que ocupava uma função chave, a de articulação política com o Congresso, justamente num momento em que o Planalto precisa aprovar a PEC do Teto de Gastos, espinha dorsal da política econômica, e está às vésperas de encaminhar a reforma da Previdência.
“Tem de ser alguém que não esteja metido com nada de nada”, disse ao Estado, num tom próximo à ironia. A opinião do presidente, porém, é de que a saída de Geddel e o envolvimento do seu nome por Calero não irão afetar negativamente as votações no Congresso: “Efeito zero”.
O presidente também lamentou que o que chama de “um episódio menor” tenha gerado tanta tensão política. “Ora vejam, quem me conhece sabe que eu não sou de sair ‘enquadrando’ ninguém. O que eu falei a ele foram coisas absolutamente normais”, disse Temer. “Não sei por que esse rapaz (Calero) reagiu dessa forma.”
Calero disse à polícia ter sido pressionado por Geddel, Temer e também pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, para que o Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) alterasse um parecer que embargou a obra do empreendimento imobiliário La Vue na Ladeira da Barra, na capital baiana, onde o agora ex-chefe da Secretaria de Governo disse ter comprado um apartamento.
Temer confirma a versão de Calero sobre as conversas que teve antes do pedido de demissão e diz que, de fato, recomendou que o ex-ministro procurasse a Advocacia Geral da União (AGU). Só rebate que tenha tido “algum tipo de enquadramento”.
O presidente afirmou ainda haver “fortes rumores” de que Calero tenha gravado as conversas, mas disse que não recebeu confirmação. “Se eu perguntar para a Polícia Federal, já vão dizer que é pressão. Veja como são as coisas.” Ele afirmou, porém, torcer para que as conversas tenham sido gravadas “para comprovar que não houve nada demais, foram conversas normais.”
Sobre a possibilidade de oposi- ção entrar com um pedido de impeachment, disse considerar “absolutamente normal”: “Eles estão no papel deles”.
Abafa. Ao longo da semana, Geddel tentou abafar a crise e deixou Brasília na quarta-feira à noite, enquanto cresciam denúncias contra ele, inclusive relacionadas a iminente delação de executivos da Odebrecht. Em sua carta de demissão, enviada por e-mail, ele pede desculpas. “Diante da dimensão das interpretações dadas, peço desculpas aos que estão sendo por elas alcançados, mas o Brasil é maior do que tudo isso.” / Colaboraram Tânia Monteiro, Carla Araújo e Vera Rosa
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