• Turbulência. Episódio que culminou na saída do ministro Geddel Vieira Lima, segundo economistas, pode reduzir capital político do governo num momento em que medidas fundamentais, como a PEC do Teto e a reforma da Previdência, ainda terão de ser votadas
Risco é governo ficar sem capital para reformas
• Caso projetos não andem, País pode ter um choque inflacionário e recuperação da economia será comprometida, segundo analistas
Douglas Gavras, Idiana Tomazelli, Isabela Bonfim - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO, BRASÍLIA - A crise política que culminou na saída de Geddel Vieira Lima do cargo de ministro da Secretaria de Governo acende um sinal de preocupação no mercado em relação à capacidade do governo de avançar nas reformas estruturais necessárias para a retomada do crescimento, segundo analistas. Ainda que não deva ter dificuldades para aprovar no Senado a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do teto de gastos, cuja votação em primeiro turno está prevista para a próxima terça-feira, Michel Temer pode ficar sem capital político para fazer passar reformas delicadas, como a da Previdência, avaliam.
A apreensão decorre da percepção de que o episódio deve elevar a insatisfação popular contra Temer e ameaçar os ajustes econômicos no longo prazo. “Sempre que um caso como esse acontece, a avaliação de risco do mercado aumenta e limita a possibilidade de o governo entregar a economia arrumada até 2018”, diz a economista Zeina Latif, da XP Investimentos.
Ainda que o capital político se comprometa, a melhor resposta para a crise é o governo tocar a agenda econômica sem concessões, não recuar com os Estados e fazer com que os governadores encontrem soluções para os problemas estruturais que eles construíram, diz.
“É difícil prever com certeza as implicações da crise política no futuro das reformas econô- micas, mas, se essas propostas não andarem, vai ser trágico para o Brasil. Nessa hipótese, o risco país subirá e afetará o câmbio. Vamos ter um choque inflacionário, e a política de juros será comprometida. Sem mexer nos juros, não dá para sair da crise”, diz Samuel Pessôa, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV.
A avaliação dos economistas é que a crise coloca uma variável a mais de incerteza, em um momento em que o mercado reduz seu otimismo com a recupera- ção da economia. “O episódio deixa o governo mais frágil, e ele precisa garantir as reformas, para que o Brasil não vire o Rio de Janeiro”, diz Marcel Balassiano, também da FGV.
Ontem, o mercado reagiu com nervosismo aos desdobramentos da crise. Durante o dia, a moeda americana chegou a bater em R$ 3,4638 e fechou em alta de 0,40%, a R$ 3,4074. O mercado de juros futuros acompanhou o movimento do dólar, e as taxas registraram alta, sobretudo nos contratos longos. O Ibovespa chegou a cair 1,34%, mas fechou em alta de 0,27%, aos 61.559,08 pontos.
Agenda. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, reafirmou ontem ter segurança de que a PEC do teto de gastos será aprovada. O comentário foi enviado por e-mail ao Estado, após ser questionado sobre os impactos do episódio no cronograma de votação. “A reforma da Previdência será enviada ao Congresso normalmente para ser discutida e votada em 2017 como previsto”, acrescentou.
Apesar da sinalização de confiança, há nos bastidores preocupação com a repercussão do caso. Diversos empresários e economistas entraram em contato com o Ministério da Fazenda para ouvir da própria equipe econômica a certeza de que o ajuste fiscal está assegurado.
A reta final do ano ainda reserva outras votações importantes, como a renegociação da dívida dos Estados, a reabertura do programa de repatriação e o Orçamento de 2017
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também minimizou o estrago. Além da PEC, ele citou outros projetos na pauta de votação até o fim deste ano, como a lei de licita- ções. / Colaborou Renata Pedin
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