A senadora Gleisi Hoffmann disparou contra a possibilidade de prisão do ex-presidente Lula: “Vai ter que matar gente.” Ontem, Lula esteve no Rio para encontro com intelectuais e artistas.
‘Vai ter que matar gente’
Lula foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, na primeira instância
Presidente do PT sobe o tom e diz que prisão de Lula poderia resultar até em mortes
Jussara Soares / O Globo
-SÃO PAULO E BRASÍLIA- A uma semana do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), o PT subiu o tom que vem adotando de perseguição política ao partido e ao seu maior líder. Com a possibilidade de condenação em segunda instância de Lula, a senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, radicalizou o discurso e criticou o processo. Ao duvidar de uma eventual prisão de Lula, em entrevista ao site Poder360, ela declarou que pode haver até mortes antes que o petista vá para a cadeia.
— Ah, isso não vai. (Lula ser preso). Para prender o Lula, vai ter que prender muita gente. Mas, mais do que isso, vai ter que matar gente. Aí vai ter que matar — afirmou Gleisi ao site.
O clima de hostilidade chegou em forma de ameaça via rede social aos três desembargadores que julgarão Lula na próxima quarta-feira, em Porto Alegre. Segundo Roberto Veloso, presidente da associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), os responsáveis já foram identificados e seus nomes encaminhados à Procuradoria-Geral da República para providências.
As declarações de Gleisi ocorreram após o presidente do TRF-4 ir a Brasília discutir questões de segurança durante o julgamento do recurso petista. Lula foi condenado a nove anos e seis meses de prisão pelo juiz Sergio Moro. Mesmo que o TRF-4 confirme a pena, a prisão imediata já foi descartada pelo tribunal. Em nota, o órgão informou que a eventual detenção dos envolvidos no julgamento só ocorrerá após a análise de todos os recursos cabíveis à corte.
A ofensiva jurídica também ganhou contorno político com a escalação dos deputados petistas Paulo Teixeira (SP) e Wadih Damous (RJ) como advogados do presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, que também terá recurso julgado no próximo dia 24. Okamotto foi inocentado pelo juiz Sergio Moro, e o MPF recorreu da decisão. Os parlamentares têm discursos marcados pela defesa de Lula e por críticas à Operação Lava-Jato.
Gleisi defendeu que o resultado do julgamento no TRF-4 não pode tirar o petista da disputa pela Presidência, em outubro.
— A candidatura do Lula será decidida na Justiça Eleitoral. Porque a candidatura só se resolve na Justiça Eleitoral. É em outra esfera. Não tem nada que nos impeça de registrar Lula como candidato no dia 15 de agosto — disse Gleisi.
DEPOIS, NO TWITTER, “FORÇA DE EXPRESSÃO”
Com a repercussão negativa, a senadora tratou de ir ao Twitter para amenizar suas declarações e alegou que usou uma “força de expressão para dizer o quanto Lula é amado pelo povo brasileiro”. “(Lula) É o maior líder popular do país e está sendo vítima de injustiças e violências que atingem quem o admira. Como não se revoltar com a condenação sem provas? Política e injusta”, escreveu.
O acirramento do discurso do PT contra o Judiciário, entretanto, não se limitou à entrevista. No site do partido, um artigo assinado por Gleisi Hoffmann atrelou a isenção da Justiça à absolvição de Lula. “Por isso temos dito insistentemente que a única sentença possível, capaz de devolver credibilidade ao Poder Judiciário e de tranquilizar a população com relação à sua isenção, é absolver o presidente Lula”, defendeu.
As informações das ameaças aos três desembargadores foram levadas à Associação de Juízes Federais na segunda-feira pelo presidente do TRF-4, Carlos Eduardo Thompson Flores, em Brasília. Flores teve uma série de encontros para tratar do assunto, sendo um deles com a procuradora-geral da República, Raquel Dodge. A conversa teve como assunto principal as ameaças direcionadas aos desembargadores e também ao próprio tribunal. Procurada, a PGR disse que não se manifestaria sobre o assunto.
SEGURANÇA REFORÇADA EM PORTO ALEGRE
O esquema de policiamento para o julgamento entrará em operação ao meio-dia do dia 23. Várias repartições públicas estaduais e federais, sediadas em um perímetro de segurança do tribunal, fecharão as portas na véspera da sessão do TRF-4 e só voltarão a funcionar no dia 25. Policiais da Força Nacional, que já estavam no estado, reforçarão o patrulhamento. As autoridades gaúchas se reuniram ontem com representantes da CUT, do MST e da Via Campesina para discutir como devem ser os acampamentos de manifestantes, que estarão em grande número em Porto Alegre.
Também ontem, o desembargador João Pedro Gebran Neto, do TRF-4, negou pedido de Lula para que ele fosse interrogado novamente pelo tribunal no caso do tríplex do Guarujá, alegando que o depoimento prestado ao juiz Sergio Moro teria de ser reconhecido como nulo. (Colaboraram Cleide Carvalho, Bela Megale e Roberto Maltchik)
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