Presidente do partido é obstáculo; ex-prefeito acha que ele vai cair
Chico Otavio, Miguel Caballero / O Globo
O ex-prefeito Eduardo Paes chega hoje ao Rio de Janeiro para dar partida à corrida sucessória pela cadeira do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), apostando suas fichas em vir a ser o candidato do PSB. Paes reconhece que tem problemas com o atual presidente nacional do partido, Carlos Siqueira, que declarou publicamente a intenção de barrá-lo, mas acha que a correlação de forças pode mudar na legenda.
— Disseram que esse presidente nacional vai cair. Ele está enrolado com a história do jatinho do Eduardo Campos. Vamos aguardar — disse o ex-prefeito.
As conversas sobre uma possível filiação ao PSB vinham ocorrendo entre o deputado Hugo Leal, presidente estadual do partido, e o deputado federal Pedro Paulo (PMDB-RJ), braço-direito de Paes.
Procurado, o presidente do PSB rebateu a insinuação de Paes.
— Gostaria que ele mostrasse uma notícia sequer me vinculando a este episódio (jatinho de Eduardo Campos). Desafio a provar qualquer mínima vinculação minha a isso.
PERMANÊNCIA NO PMDB DESCARTADA
Siqueira, que já havia chamado os governos do PMDB no Rio de “herança maldita”, voltou a citar o atual partido de Paes para justificar por que não deseja o ex-prefeito no PSB:
— Nada a declarar sobre o retorno dele (ao país) ou sobre a eleição. Ele é do PMDB, e os políticos deste partido têm de ser julgados pela população nas urnas pelo que fizeram com a cidade e o estado do Rio. Nunca ouvi qualquer cogitação (de Paes ir para o PSB).
Outras possibilidades de partidos citadas pelo ex-prefeito são o PTB (mas ele torce o nariz diante da hipótese de negociar com Roberto Jefferson), o PDT e o PP. No PDT, um entrave poderia ser o ex-governador Ciro Gomes, pré-candidato do partido à Presidência da República, visto como um político de temperamento imprevisível. No PP, Paes tem boa relação com o vice-governador do Rio, Francisco Dornelles, mas reconhece que a composição nacional do partido é “quase suicídio”.
O que está descartado pelo ex-prefeito é a possibilidade de permanecer no PMDB de Sérgio Cabral e Jorge Picciani, os dois principais caciques do partido no estado e que estão presos em Benfica.
O ex-prefeito não esconde o desejo de concorrer, mas evita analisar os futuros adversários. Disse apenas que, quando candidatou-se pela primeira vez a prefeito, foi motivado pela intenção de ajudar a cidade.
— Agora, a única motivação é mesmo ajudar o meu estado — afirmou.
Outra incerteza para Paes é se a Operação Calicute, versão fluminense da Lava-Jato, conseguirá alcançá-lo, impedindo a candidatura. Uma das linhas de investigação mais preocupantes para o ex-prefeito foi iniciada com a Operação “Rio 40 Graus”, que resultou na prisão do ex-secretário municipal de Obras Alexandre Pinto. De acordo com os investigadores, Pinto, que ocupou o cargo durante sete anos e meio, cobrou propina das empreiteiras nas obras do legado olímpico. O ex-secretário foi citado em delação premiada de Luciana Salles Parentes, ex-funcionária da Carioca Engenharia, segundo a qual Pinto teria cobrado propina de 1% sobre um dos trechos da Transcarioca, executado pelo consórcio OAS-Carioca-Comtern.
O ex-prefeito também aparece em listas de propinas da Odebrecht, identificado com o pseudônimo “Nervosinho”. Segundo a delação de Benedicto Barbosa da Silva Júnior, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, ele teria recebido R$ 15 milhões por obras ligadas aos Jogos Olímpicos.
Paes, no entanto, garante que foi traído por Alexandre Pinto e nada sabia sobre o esquema de corrupção na secretaria. Ele também nega a propina da Odebrecht e garante que, até o momento, nenhum delator declarou ter entregue dinheiro diretamente para ele:
— Estou fazendo uma coleção. Dez já disseram a mesma coisa.
Paes afirma que seu primeiro objetivo, no momento, é abrir no Rio uma filial da chinesa BYD, fabricante de veículos, para a América Latina. Desde o ano passado no cargo de vice-presidente do grupo, Paes disse que procura um conjunto de escritórios na região portuária, revitalizada durante a sua gestão para os Jogos Olímpicos de 2016. A empresa, que tem mais de 250 mil funcionários, pretende lançar no ano que vem um carro elétrico no Brasil, mas Paes garante que não se envolverá nos negócios em território nacional.
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