Por Fabio Murakawa e Lucinda Pinto | Valor Econômico
BRASÍLIA E SÃO PAULO - Enquanto muitos enxergam o desfecho desta eleição presidencial de 2018 como imprevisível, para o cientista político Luciano Dias, da CAC Consultoria, o cenário está quase todo traçado. Com a "caneta na mão", diz, a chamada "centro-direita" tem poucas chances de sair derrotada, seja quem for o candidato: o governador Geraldo Alckmin, de São Paulo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ou até mesmo o presidente Michel Temer.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o apresentador Luciano Huck teriam problemas por ainda não haverem sido testados. Assim como o prefeito de São Paulo, João Doria, "que nunca experimentou a derrota ou a traição". Ainda assim, diz ele, seriam favoritos.
O ex-presidente Lula, por sua vez, é "menos perigoso" do que um eventual candidato indicado por ele. E Marina Silva já teve seu "recall consumido pelo tempo".
Nesse contexto eleitoral, o único ponto fora da curva, ou "anomalia", é o desempenho de Jair Bolsonaro na Região Norte. Um fenômeno ainda sem explicação.
Doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ), Dias fundou a CAC em 1997. Tem como clientes bancos, corretoras e políticos - especialmente alguns ligados ao PP. Chefiou a equipe de transição do ex-prefeito de Campo Grande, Alcides Bernal, em 2012. Também prestou consultoria ou atuou como conselheiro de políticos ligados a partidos como o DEM e o PR.
Suas análises e acertos em votações no Congresso, como a aprovação da reforma trabalhista, têm chamado a atenção de operadores no mercado. Previu o impeachment da presidente Dilma Rousseff com meses de antecedência, quando ela preteriu o PMDB de Temer e Eduardo Cunha, então presidente da Câmara, em detrimento do PMDB do Nordeste, em uma malsucedida reforma ministerial no fim de 2015. "A eleição neste ano é muito mais fácil de prever. Porque a caneta mudou de mão", afirma Dias, nadando novamente contra a corrente.
No ano passado, foi contra a maré de analistas que davam como alta a probabilidade de o presidente Michel Temer cair por conta do escândalo da delação da JBS.
"A sensação é que ele transita no chão, sente o pulso dos caras", diz um operador do mercado sobre as análises de Dias.
Ele baseia suas previsões em um modelo de "distribuição geográfica do voto", que diz ter criado levando em conta a distribuição dos votos nas eleições ao longo da história. Por esse modelo, só o Sudeste representa mais de 40% dos votos. Se a oposição é competitiva ali, vai fazer uma eleição competitiva.
Isso explica, ao mesmo tempo, o fato de Aécio ter chegado tão perto de derrotar Dilma em 2014 como por que será tão difícil para o PT sair vitorioso neste ano. Na última eleição, duas "anomalias" geraram a vitória da petista: a expressiva votação no Nordeste, onde teve quase o triplo dos votos do rival. E a derrota de Aécio em Minas, fato inédito para um governador no próprio Estado, em mais de um século de eleições no Brasil.
Esses dois fenômenos, prevê, tendem a não se repetir. "Com a caneta na mão", diz, o candidato governista tem mais condições de combater o legado de Lula no Norte e no Nordeste. Enquanto no Sul e no Sudeste, o desempenho do PT, vem caindo eleição após eleição, na proporção inversa da rejeição ao ex-presidente Lula.
Nesse sentido, acredita o analista, um candidato indicado por Lula seria mais competitivo do que o próprio ex-presidente. "Seu candidato vai ser mais perigoso do que Lula, mais difícil para a centro-direita", diz. "Alguém com rejeição menor vai poder atuar no eleitorado dos Estados mais ricos", afirma, referindo-se a políticos como o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, ou o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner.
Em seu modelo, prossegue, a candidatura Lula representa uma "derrota antecipada". "A melhor solução para o PT seria buscar uma coalizão de centro-esquerda. [Compor com] Ciro Gomes, por exemplo", afirma. "Mas o PT não tem processo de decisão racional."
Jair Bolsonaro, entretanto, é um fenômeno ainda sem explicação. Segundo Dias, "candidatos ideológicos" como ele, em geral, têm distribuição quase uniforme de voto nas distintas regiões brasileiras. Marina Silva, por exemplo, possui desempenho semelhante nas pesquisas no Norte, Nordeste, Sul e Sudeste e Centro-Oeste. O ex-capitão do Exército, entretanto, destaca-se na região Norte.
Em sua opinião, porém, uma vitória de Bolsonaro não seria ruim para a "coalizão de centro-direita, pois ele terá que fazer acordos para vencer a eleição.
"Se continuar agindo como louco, é fator de instabilidade", diz. "Ele vai demonstrar a partir de agora o quão disruptivo é ou não. Se fizer acordos, é um político que pode ser domesticado. E, ao fazer isso, já entrou no sistema."
Para Dias, a baixa popularidade de Temer, assim como as pesquisas que avaliam a aprovação dos presidentes no Brasil, "tal como vendida, é um constructo" (construção mental criada para ser encaixar em uma teoria).
"O que importa é a máquina do governo federal", diz. "No Brasil, se inflação cai dez pontos, o presidente recupera a popularidade."
Temer, prossegue, não pode ser candidato agora "por razões operacionais" - colocaria em risco seu apoio no Congresso. "Se não houvesse evento Joesley, seria candidato", afirma Dias. "O governo está fazendo o que é esperado: soltando nomes."
Trinta anos de pesquisa, diz ele, mostram que não se atrai eleitorado no Brasil antes de junho. E que, depois de agosto, os números das intenções de voto permanecem quase sempre inalterados.
"Fico fascinado com essa impressão: como os brasileiros acham que seu passado é caótico, imprevisível e turbulento. Quando na verdade não é", diz ele. "As eleições brasileiras têm baixa turbulência endógena."
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