- Revista IstoÉ (5/7/2018)
Os milhões de indignados são como milhões de partículas que não se somam. Cada uma, quero dizer, cada indivíduo, entende a situação de um jeito
Suponhamos que o Brasil ganhe a Copa, de maneira brilhante. Em seguida, os atletas, embora quase todos joguem na Europa, certamente virão ao Brasil para receber as homenagens e o calor da torcida.
Essa hipótese suscita a velha e boa indagação sobre os possíveis efeitos políticos dos triunfos esportivos. A alegria e o orgulho de sermos brasileiros serão sentimentos efêmeros, que logo se dissiparão, nos levando de volta à situação anterior? A situação anterior, como ninguém ignora, era uma forte tendência à radicalização, um ambiente raivoso, um mau humor sem precedente em nosso País. Mau humor, acrescento, perfeitamente compreensível, afinal ainda nem saímos da recessão de quase três anos provocada pelo governo Dilma. O número de desempregados continua na casa dos 13 milhões. A corrupção amazônica é corajosamente enfrentada em Curitiba, mas, em Brasília, a Segunda Turma do STF insiste em passar uma borracha em tudo, com a cara mais limpa desse mundo.
O quadro acima esboçado piora bastante quando nos voltamos para o quadro eleitoral. A indignação é generalizada, mas não é um corpo homogêneo. Os milhões de indignados são como milhões de partículas que não se somam. Cada uma, quero dizer, cada indivíduo, entende a situação de um jeito. Cada um responsabiliza um político, um partido ou um acontecimento qualquer pela catástrofe que se abateu sobre o País. Em sociologuês, isso é o que se costuma chamar de anomia, ausência de ordem, desnorteio geral, agravado por um sentimento de desânimo e desesperança. Um sentimento de que tudo vai mal e de que não há a quem apelar.
Não há a quem apelar: aqui entram as eleições. Antes, bem ou mal, tínhamos a polarização PT X PSDB. Agora, nem isso. Os candidatos presidenciais até agora não empolgaram, e não parece provável que esse dado vá se alterar. Raras vezes na história dessa república tivemos um elenco tão ruim de presidenciáveis.
E é assim mesmo que vamos para a eleição, com um alto índice de abstenção e os votos válidos esfarelados entre os diversos candidatos. Teoricamente, a responsabilidade por apontar rumos e engendrar convergências cabe aos partidos, mas só os muito otimistas acreditam que nossa estrutura partidária tenha alguma relevância neste momento. E agora, José?
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