sábado, 7 de julho de 2018

Brasil fora: Editorial | Folha de S. Paulo

Derrotas na Copa são sempre dolorosas para o país; agora há chance de aprender também

A Copa do Mundo acabou para a seleção brasileira de forma triste, claro, mas digna. Ao longo de cinco partidas, o time mostrou organização, empenho e qualidades técnicas suficientes para justificar sua inclusão entre os candidatos mais fortes ao título —não uma condição de favorito absoluto.

Entretanto trata-se de torneio curto, de disputas decisivas que exigem o máximo de equilíbrio emocional e concentração dos jogadores. Momentos de descuido, imprecisão e nervosismo, como os que se viram nesta sexta (6), não raro resultam em eliminação.

Perdeu-se, convém lembrar, para um oponente poderoso.

Sempre existirão críticas pertinentes a esta ou aquela escolha do treinador ou atuação individual. Mas se pode afirmar que, no cômputo geral, houve bom aproveitamento dos valores disponíveis —e progresso considerável desde o vexame de quatro anos atrás.

Nenhuma grande equipe passaria sem traumas por uma experiência como a derrota por 7 a 1 em solo pátrio. Poucas disporiam dos recursos humanos necessários para se refazer do choque e voltar de pronto a competir em alto nível.

Resultado de um colapso tático e psicológico, a goleada sofrida para a Alemanha em 2014 acabou associada a todos os erros percebidos em torno do esporte mais popular do país, da organização perdulária da Copa com dinheiro público aos desmandos da Confederação Brasileira de Futebol, depois escancarados em proporções inéditas.

Muito se perde em avaliação serena e planejamento lógico quando se trata de atividade que desperta tantas paixões. Recorde-se que, após a enorme tristeza de 1950, nem mesmo se quis preservar o uniforme branco de então, que deu lugar à mítica camisa amarela.

Outros percalços dolorosos, como o de 1982, originaram debates um tanto bizantinos sobre a suposta oposição entre proporcionar espetáculos e vencer.

Desta vez fez-se algo menos dramático, embora não sem acidentes de percurso. Trabalhou-se com a base de 2014, renovada gradualmente —dos 11 jogadores que começaram o jogo perdido por 2 a 1 para a Bélgica, seis haviam disputado o Mundial anterior.

Premida por fracassos e escândalos, a CBF escolheu o técnico Tite por critérios exclusivos de mérito e lhe concedeu ampla autonomia, o que permitiu dois anos de preparação racional e coerente.

Os 7 a 1 não significaram a derrocada do futebol brasileiro, nem há que buscar algum tipo de redenção. Apesar do desfecho frustrante na Copa da Rússia, deve-se aprender com os acertos do processo.

Talvez se possa dizer que tudo não passa de mero negócio privado, indigno de tamanha atenção. Mas no Brasil as carências de gestão, competitividade, lisura e prestação de contas precisam ser superadas em todos os setores.

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