quinta-feira, 12 de julho de 2018

Turbulência pressiona custos e prazos da dívida mobiliária: Editorial | Valor Econômico

Levantamento apresentado pelo Tesouro nesta semana dá um bom retrato do impacto na administração da dívida mobiliária da turbulência que aflige os mercados desde a greve do transporte rodoviário de carga, em maio, intensificada posteriormente pela guerra comercial global e pelas incertezas da eleição presidencial. O Tesouro informou que a "elevada volatilidade" o obrigou a cancelar os leilões tradicionais de venda de NTN-Bs, LTNs e NTN-Fs do fim de maio, todos que estavam previstos para junho, com exceção da venda de LFTs, e o de NTN-Fs da semana passada. Paralelamente, teve que realizar leilões extraordinários de compra e venda de títulos públicos para oferecer uma saída aos investidores, que amargavam pesados prejuízos com a desvalorização dos títulos públicos. Entre 28 de maio e 4 de julho, o Tesouro recomprou cerca de R$ 22 bilhões.

Os problemas não ficaram para trás. O Tesouro já avisou que vai cancelar os leilões de NTN-Fs deste mês e pretende manter os de LTNs e os de NTN-Bs, embora tenha prevenido que pode suspendê-los, dependendo da situação. Confirmou apenas os de LFTs. O mais recente balanço da dívida mobiliária feito pelo Tesouro pega apenas alguns dias de turbulência porque refere-se apenas a maio, mas também apresenta sinais de alerta. O estoque total da dívida mobiliária federal aumentou 1,59% em maio e chegou a R$ 3,7 trilhões. A dívida mobiliária interna cresceu 1,4% para R$ 3,57 bilhões, acumulando 4% no ano, R$ 128,2 bilhões em juros. A fatia de papéis prefixados diminuiu de 35,34% em dezembro para 34,67% em maio; a de títulos atrelados a índices de preços recuou de 29,55% para 29,32%; enquanto a de papéis flutuantes subiu de 31,51% a 32%; e a de papéis corrigidos pelo câmbio, de 3,6% para 4,01%.

Causam, porém, preocupação a redução do prazo, o aumento do custo e a diminuição da participação de investidores estrangeiros. A fatia de papéis com vencimento em até 12 meses saltou de 16,9% no fim de 2017 para 20,81% em maio, superando os limites do Plano Anual de Financiamento (PAF), que pretendia manter os títulos mais curtos entre 15% e 18% o total. O custo médio do estoque de títulos, que havia caído de 10,29% em dezembro para 9,89% em abril, voltou a subir e atingiu 10,04% em maio, influenciado pelo impacto da correção cambial na dívida externa. Levando em conta apenas a dívida mobiliária interna, o custo médio ficou em 9,62% em maio, abaixo dos 10,34% de dezembro.

Os dados também mostram a redução da participação do investidor estrangeiro, que detinha 12,12% da dívida mobiliária interna brasileira, fatia diminuída para 11,96% em maio. Somente entre abril e maio houve um corte de pouco mais de R$ 5 bilhões, justificado pelo aumento das incertezas políticas, pela elevação dos juros americanos e pelas tensões comerciais, que levaram os estrangeiros a reduzirem as posições nos mercados emergentes em geral.

Outros sinais inquietantes no mercado aberto são a retomada das vendas de swaps cambiais e o aumento das operações compromissadas. O Banco Central lançou mão da oferta de swaps para conter a escalada do dólar. O estoque desses contratos chegou ao pico de US$ 114,4 bilhões em abril de 2015, mas recuou após maio de 2016, e estava em US$ 23 bilhões em abril passado. Com as recentes vendas do Banco Central, rapidamente subiu e chegou a US$ 67 bilhões no fim de junho, um salto de 181% em dois meses. Quando o dólar sobe, o Banco Central perde. Neste ano, até junho, as perdas somam R$ 16,4 bilhões. No entanto, são amplamente compensadas pelo ganho que o BC obtém com as reservas internacionais quando o dólar sobe.

Outro ponto preocupante é a expansão das operações compromissadas, que o Banco Central realiza geralmente para enxugar a liquidez e balizar os juros, vendendo papéis do Tesouro que possui em carteira e prometendo recomprá-los depois. O saldo das operações compromissadas era de R$ 528 bilhões em 2013, atingiu R$ 1,116 trilhão no fim do ano passado e chegou a R$ 1,158 trilhão em maio, o equivalente a 17,4% do Produto Interno Bruto (PIB). Relatório da consultoria GO Associados atribui à expansão das compromissadas quase a metade do crescimento da Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) neste ano. A DBGG chegou a 77% do PIB em maio, com aumento de 3% do PIB neste ano. O prazo médio das compromissadas caiu de 28 dias para 19 dias. A expansão dessas operações mascara o prazo médio da dívida mobiliária, revela o aumento da insegurança do mercado e o empoçamento da liquidez.

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