Escolhido para ser da banda ideológica do governo, jamais tratou da real agenda da pasta
Ricardo Vélez Rodríguez tem uma incompatibilidade nata com o cargo de ministro da Educação. Professor de Filosofia, arregimentado para fazer parte do grupo ideológico do governo, Vélez parecia ter a missão de colocar nos eixos um setor visto pelas lentes do bolsonarismo como um bolsão de marxistas, impregnado de uma visão politicamente errada da sociedade brasileira, uma ameaça à família e às demais instituições.
Em café da manhã ontem com jornalistas, o presidente Jair Bolsonaro indicou que Vélez terá pouco tempo mais de governo: “está bastante claro que não está dando certo. Na segunda-feira, vamos tirar a aliança da mão direita, ou vai para a esquerda ou vai para a gaveta.” A decisão já está tomada, completou Bolsonaro.
Nunca esteve no MEC, na verdade. O ministro se notabilizou apenas por emitir opiniões inapropriadas. Escorregou ao tachar de “canibal” o brasileiro em turismo no exterior, quando, segundo ele, rouba hotéis e até mesmo o “assento salva-vidas dos aviões”. Qual a relação do MEC com o tema? Para o ministro, é na escola que o brasileiro aprenderá a não ser um selvagem.
Ora, é na escola que o brasileiro precisa aprender muita coisa, para se qualificar e ocupar um posto no mercado de trabalho, contribuindo para aumentar a baixa taxa de produtividade da economia brasileira. Este, um dos objetivos estratégicos do país, jamais foi mencionado com a ênfase devida em alguma declaração de Vélez nos quase cem primeiros dias de governo. O tempo foi desperdiçado, por exemplo, na emissão de uma circular a todas as escolas, para que, no primeiro dia do ano letivo, os alunos, perfilados, saudassem o hasteamento da Bandeira, enquanto cantavam o Hino Nacional, e ainda lessem um texto em que se citava o lema de campanha de Bolsonaro: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. O MEC de Rodríguez também determinou que a direção dos estabelecimentos filmasse os alunos lendo o texto, e enviasse o material para o ministério e a Secretaria de Comunicação da Presidência. Clara tentativa, ilegal, de usar imagens privadas em peças de propaganda política.
É provável que o enfrentamento de grupos bolsonaristas no MEC, na disputa pelo poder, tenha ajudado o ministro a se desviar da pauta de temas concretos e importantes da sua pasta. Em 27 dias, Vélez demitiu 14 assessores. Um dos últimos atos da crise no MEC foi a aparente tentativa de salvamento do professor, com a nomeação do tenente-brigadeiro Ricardo Machado Vieira como secretário-executivo da pasta. Buscaria algum apaziguamento no MEC. Pelo que disse Bolsonaro ontem de manhã, o plano foi abortado.
Mas nenhum problema será resolvido se Vélez vier a ser substituído por alguém que não seja um especialista na área. Um novo sectário no posto será trágico. Há muito o que fazer no MEC, existe uma agenda em andamento e, em boa medida, é a partir da administração deste ministério que o Brasil conseguirá ou não fazer a revolução na educação de que depende seu futuro.
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