As reuniões de Jair Bolsonaro com líderes de seis partidos, anteontem, sinalizam importante mudança de comportamento do presidente em relação ao Congresso, o que pode afinal melhorar o clima com vista a aprovar a reforma da Previdência e outros projetos de interesse do País. Após três meses de gestão repletos de conflitos inúteis entre o governo e os parlamentares, Bolsonaro enfim aceitou o fato de que é preciso dialogar com os partidos. Até então, sustentava o discurso de campanha segundo o qual qualquer forma de negociação com as legendas seria retornar aos maus hábitos da “velha política” – codinome para corrupção e fisiologismo –, amplamente rejeitados nas urnas.
Por um certo tempo, sustentou que seu governo só se relacionaria, no Congresso, com as frentes parlamentares, que reúnem deputados de diversos partidos em torno de pautas comuns. Foram as frentes que indicaram alguns ministros, alterando a prática do presidencialismo de coalizão, em que o Ministério era formado por indicações dos partidos em troca de apoio ao governo. O problema, contudo, é que as frentes não garantem votos em bloco, e portanto não é possível contar com seu apoio integral ou mesmo parcial aos projetos do governo, especialmente para temas que não dizem respeito a esta ou àquela frente. Ou seja, não é possível formar uma base governista somente a partir do diálogo com as frentes.
Ademais, e talvez o mais importante, Bolsonaro deu sinais de desdém pela articulação política, indicando políticos neófitos e claramente despreparados para representar os interesses do governo no Congresso. Não raro, esses líderes do governo são ridicularizados pelos parlamentares.
O próprio presidente criou indesejáveis antagonismos no Congresso ao insistir em sua crítica à “velha política”. Parlamentares que declararam apoio às pautas do governo se sentiram desconfortáveis com a insinuação de Bolsonaro de que negociações com políticos e com partidos são necessariamente corruptas. Ou seja, o presidente corria sério risco de perder o escasso suporte parlamentar que conseguiu até agora.
Aparentemente foi esse o motivo que o convenceu a abrir as portas do governo para conversar com os líderes de diversos partidos (DEM, PSDB, PSD, PP, PRB e MDB). Nos encontros, pediu apoio à reforma da Previdência e anunciou a criação de um “conselho político” para manter um diálogo permanente. Pediu desculpas pelas suas críticas aos políticos – que ele chamou de “caneladas” – e se comprometeu a não falar mais em “velha política”, ainda que, depois, nas redes sociais, tenha jurado a seus eleitores que não negociou cargos com ninguém, como se qualquer reunião com líderes políticos fosse suspeita por definição.
O gesto de distensão não teve efeito imediato. Apenas o DEM, por meio de seu presidente, ACM Neto, sinalizou a possibilidade concreta de apoio, embora o partido esteja hoje dividido – especialmente depois que Bolsonaro se desentendeu publicamente com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Os demais líderes não se dispuseram a declarar adesão à base do governo. Ou seja, o presidente terá que gastar mais seu verbo para garantir um patamar mínimo de votos no Congresso.
O primeiro passo, no entanto, está dado. Espera-se, daqui para a frente, que não haja mais tropeços, pois o governo precisa ter mais do que o PSL, o partido do presidente, como sustentação no Congresso – e isso ficou claríssimo na sabatina do ministro da Economia, Paulo Guedes, quarta-feira passada na Câmara, quando os deputados do PSL, inclusive os líderes do governo, mal deram o ar da graça, permitindo que a oposição ficasse à vontade para atacar o ministro.
Outra providência que Bolsonaro precisa adotar para construir pontes sólidas com o Congresso é ordenar que seus filhos parem de lhe causar constrangimentos. Depois que o pai se reuniu com líderes partidários para convencê-los a apoiar o governo, o vereador carioca Carlos Bolsonaro foi ao Twitter para dizer que esses políticos só não pediram cargos ao presidente porque Bolsonaro tem “a população a seu lado”, e acrescentou: “Por isso o sistema corrupto insiste tanto em desgastá-lo e transformá-lo em mais um boneco de ventríloquo”. Nunca um pito paterno foi tão necessário e urgente para o País.
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