- Folha de S. Paulo
Bolsonaro contribui para 'reforminha', e Guedes sonha com aposentadoria precoce
No quinto andar do Ministério da Economia, ninguém sabia do que falava o presidente Jair Bolsonaro ao anunciar na quarta-feira (22) um estrambólico projeto com potência fiscal maior que o trilhão da reforma da Previdência. Não havia nem há nos escaninhos do ministro Paulo Guedes (Economia) & cia. proposta para tributar reavaliação patrimonial de contribuintes.
O episódio vem sendo tratado na pasta como fumaça. Não tem densidade. O sub do sub do sub da Receita Federal até confirmou que existem estudos em curso —mas quem é ele para contradizer o presidente da República? Desconcertado, o chefe do fisco, Marcos Cintra, que coleciona saias justas com Bolsonaro, prometeu fazer contas e analisar a medida, que poderia turbinar a arrecadação. Há quem fale em R$ 200 bilhões a R$ 300 bilhões em recursos extras para o Tesouro, mas é um cálculo ainda a ser esclarecido.
O fumacê de Bolsonaro gera efeito colateral direto na reforma da Previdência. Constitui mais uma incrível peripécia em que o presidente joga contra a PEC das mudanças nas aposentadorias. Afinal, mais vale arrancar bilhões de especuladores imobiliários do que maltratar velhinhos pobres e viúvas indefesas.
Em meio à pindaíba econômico-fiscal e ao caótico embate Congresso versus Palácio do Planalto, o presidente não facilita a vida de Guedes. As más-línguas insinuam que Paulo está irritado com Jair pelo excesso de confusões e pela desarticulação política. Pessoas próximas ao ministro afirmam que isso é futrica.
Por coincidência, Guedes voltou a dizer que pode deixar o ministério caso a reforma da Previdência não seja aprovada, pois o Brasil vai pegar fogo. “Pego um avião e vou morar lá fora. Já tenho idade para me aposentar”, declarou ele à revista Veja.
Bolsonaro respondeu prontamente nesta sexta (24). “É um direito dele, ninguém é obrigado a continuar como ministro meu. Logicamente ele está vendo uma catástrofe, é verdade, eu concordo com ele.”
Espasmo de lucidez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário