Cinco governadores estão ameaçados, mas corrupção é apenas parte do problema
A
história repugnante do dinheiro sujo
do senador Chico Rodrigues (DEM-RR) e o fato de essa criatura
ser amiga de Jair Bolsonaro ofuscaram um outro fato. O político é acusado de
desviar recursos para o combate à Covid, que teria destinado a empresas de
parentes e agregados.
Acusações
de roubança de dinheiro reservado para atenuar a
epidemia ameaçam o mandato de pelo menos cinco governadores,
três deles da “nova política”. A cúpula de pelo menos nove governos estaduais é
investigada, além de dezenas de prefeituras. Além do problema do roubo, em si,
essas crises político-policiais explicitam mais uma vez quão longe do fim está
a ruína brasileira.
Wilson
Witzel, do Rio de Janeiro, foi afastado, deve ser deposto e
provavelmente preso. Foi surfista eleitoral do bolsonarismo e é do PSC, partido
religioso agregado do governo.
O
impeachment quase certo de Carlos Moisés, de Santa Catarina, deve ser votado na
quarta-feira que vem. É do PSL que elegeu Bolsonaro, partido ora cortado ao
meio feito uma laranja.
Um
processo de impeachment contra Wilson
Lima, do PSL do Amazonas, foi arquivado pelo voto de deputados
estaduais, mas o governador é investigado pela Polícia Federal, que uma vez
pediu sua prisão, negada pelo STJ. Sua secretária de Saúde passou um tempo na cadeia.
Ibaneis
Rocha, do Distrito Federal e do MDB, toureia a Câmara
Legislativa (a Assembleia distrital) a fim de evitar a CPI da Pandemia e abanar
fumaças de impeachment. Seu secretário de Saúde foi preso. Sim, rolos nos
negócios da Covid.
Embora
não se saiba a dimensão dos desvios, roubou-se de tudo um pouco na pandemia, em
vilarejo e em capital de estado: na compra de máscaras, aventais, fraldas para
pacientes, testes, vários fajutos, e de respiradores, alguns imprestáveis.
Roubou-se, diz a polícia, na contratação de leitos de hospitais particulares,
de hospitais de campanha e de organizações sociais privadas que deveriam gerir
a saúde de modo mais eficiente. Hum.
A
súbita fartura de dinheiro e as contratações emergenciais facilitaram a
lambança, embora não a expliquem. Os seis anos de lavajatismo não passaram o
país a limpo, claro, e a administração pública continua uma zorra mesmo quando
não se rouba, vide o caso de tanto estado criminosamente falido.
A
roubança, por si só, não explica a derrubada de governadores. O farisaísmo e a
demagogia moralista ajudaram a levar ao poder gente sem articulação social e
política, sem conexões com quadros administrativos e intelectuais relevantes,
quando não evidentemente lunática. Para dar um exemplo mesquinho de horro, 2%
mais de habilidade política do que Witzel foi o bastante para manter Marcelo
Crivella (Republicanos, bolsonaristas) na cadeira de prefeito do Rio.
O
desmonte ruinoso da política e das instituições já dura faz sete anos e, como
dizia o clichê jornalístico sobre festas de Carnaval, não tem hora para acabar,
vide a degradação sem fim do Supremo. Bárbaros da “nova política” e o
patriciado cafona da “velha política” são candidatos a tomar as prefeituras em
novembro.
Cruzadas moralistas não dão conta de reconstruir a administração pública ou de vaciná-la contra bucaneiros privados. Menos ainda são capazes de abrir o sistema político para gente nova e de repensar um Estado que gasta muito, mal e agasalha interesse privado grosso, escândalos muito maiores, em qualquer aspecto, do que a corrupção
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