Cenário
pós-pandemia exige um novo Bretton Woods, diz a diretora-geral do Fundo
Monetário Internacional
Tempo de reconstrução. No pronunciamento desta quinta-feira, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), a búlgara Kristalina Georgieva, pediu que a comunidade internacional encare os problemas da hora com o espírito da Conferência de Bretton Woods.
Esse
foi o grande acordo costurado em 1946 nessa minúscula localidade do Estado de
New Hampshire, nos Estados Unidos, em que 44
representantes dos principais países liderados pelos Estados Unidos definiram
as bases econômicas da reconstrução.
Em 1944, a economia mundial estava prostrada em consequência de duas enormes devastações: a da Grande Depressão dos anos 1930 e a da 2.ª Grande Guerra, de 1939 a 1945.
Bretton
Woods restabeleceu a ordem monetária global, ainda baseada no padrão ouro.
Também criou o Fundo Monetário Internacional, para socorrer os países nos casos
de incapacidade de pagamento no mercado internacional, e o Banco Mundial, para ajudar a financiar
o desenvolvimento econômico dos países pobres.
O
momento, disse Georgieva, é de um novo Bretton Woods. E ela enumera os estragos
de um ano de pandemia: “Mais de 1 milhão de mortos, encolhimento de 4,4% no PIB
global e nova queda de US$ 11 trilhões na produção no ano que vem”. E
acrescenta que, neste ano, a pobreza aumentou pela primeira vez em décadas.
Apesar
das proporções do desastre, as tarefas de reconstrução são incomensuravelmente
menores do que as que existiam na segunda metade dos anos 1940, quando grande
extensão da infraestrutura e da capacidade de produção foi destruída pelos
bombardeios na Europa e na Ásia.
Não
dá para dizer que vem faltando ajuda. A própria Georgieva comemora a injeção de
US$ 12 trilhões em recursos fiscais por parte dos Tesouros nacionais e de mais
US$ 7,5 trilhões pelos grandes bancos centrais.
Se
o momento é de ampla reconstrução, não vai ser preciso reerguer fábricas,
portos, ferrovias e estradas e recuperar tantos campos devastados. Mas é
preciso mais investimento, cuja função será ajudar a aumentar a produção de
riquezas e a criar postos de trabalho.
Se
o momento é de um novo Bretton Woods, também é o de uma mensagem, que na
ocasião foi proferida pelo maior economista do século 20, John Maynard Keynes.
Em 1944, ele pediu um grande esforço de cooperação global, capaz de assentar as
bases para uma nova irmandade entre os povos.
Um
dos campos que podem alavancar os novos tempos é o encaminhamento de projetos
de substituição de energia fóssil por energia renovável. O mundo enfrenta hoje
um desastre econômico de natureza ambiental da ordem de US$ 1,3 trilhão. Mas
“podemos chegar a 2050 com zero de emissões de gás carbônico e ajudar a criar
milhões de empregos”, sugere Georgieva.
As maiores limitações estão no campo fiscal. Em 2021, os países avançados terão uma dívida acumulada de 125% do PIB e os países emergentes, de 65% do PIB. A dívida bruta do Brasil se encaminha rapidamente para os 100% do PIB. Mas é preciso enfrentar esses apertos não como problema incontornável, mas como obstáculos adicionais a superar. O tempo dirá se esses apelos encontram algum eco.
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