Senador
empregou parente dos filhos de Bolsonaro e controlava distrito sanitário
especial indígena
O ex-vice-líder do governo Bolsonaro no Senado, Chico Rodrigues (DEM-RR), flagrado com dinheiro grotescamente escondido e afastado do cargo pelo STF, foi o responsável pela indicação de Vitor Pacarat para o Distrito Sanitário Especial Indígena Leste, em Roraima, vinculado ao Ministério da Saúde. Lá, por meio de empresas de aliados, Rodrigues passou a fornecer equipamentos superfaturados.
A proximidade com o governo lhe valeu presença na viagem do presidente a Israel, em 2019, e na visita do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, a Roraima. Em vídeo, ainda na campanha, Bolsonaro diz ter com Rodrigues “quase uma união estável”, que ainda garantiu a um primo dos filhos do presidente, Leonardo Rodrigues, um emprego no gabinete do senador.
Em
entrevista na manhã de ontem, à saída do Palácio do Alvorada, o presidente da
República, Jair Bolsonaro, disse que a operação de busca e apreensão da Polícia
Federal na casa do senador Chico Rodrigues (DEM-RR) é uma demonstração de que
seu governo não tem corrupção. Na tentativa de se descolar do vice-líder do seu
governo no Senado flagrado com dinheiro grotescamente escondido, o presidente
disse que seu governo, na verdade “combate a corrupção”.
Coube
ao senador, porém, a indicação, em 2019, de Vitor Pacarat como coordenador do
Distrito Sanitário Especial Indígena Leste, em Roraima, um dos 34 DSEIs do
país. Os distritos, responsáveis pelas comunidades indígenas, estão sob o
chapéu do Ministério da Saúde. As etnias sob a supervisão do DSEI Leste tinham
um outro candidato para o cargo e ocuparam as instalações do órgão em protesto.
As
investigações da Polícia Federal mostram que, com o advento da covid-19, o
senador, por meio de empresas comandadas por familiares e aliados, passou a
fornecer equipamentos de proteção individual superfaturados ao DSEI. A
Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) aponta
este distrito como um dos recordistas em casos de covid-19 entre as comunidades
indígenas do país. O DSEI Leste é responsável pela saúde de 51 mil indígenas de
325 comunidades.
A
aproximação entre Chico Rodrigues e o governo também ficou patente quando o
senador acompanhou o chanceler Ernesto Araújo na recepção ao secretário de
Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, em Roraima. O secretário fez da visita
um palanque para um discurso ameaçador ao presidente venezuelano Nicolás Maduro
na reta final da campanha eleitoral americana. A adesão de Chico Rodrigues aos
princípios da política externa bolsonarista também motivou o convite para que
integrasse a comitiva do presidente na viagem a Israel, em 2019.
Em
vídeo, ainda na campanha eleitoral, Bolsonaro diz que tem, com o senador, seu
colega na Câmara dos Deputados por cinco mandatos, “quase uma união estável”. A
proximidade também foi retribuída com o emprego, no gabinete do senador, do
primo dos filhos do presidente, Leonardo Rodrigues, mais conhecido como “Leo
Índio”.
Menor
colégio eleitoral do país, com 331 mil eleitores, Roraima costuma ficar de fora
das rotas dos candidatos a presidente em campanha. Não foi o caso de Jair
Bolsonaro, que lá teve uma de suas mais expressivas vitórias. Alcançou 78,6%
dos votos no segundo turno, patamar só batido pelo Acre (82%).
Fez
campanha no Estado com um discurso em defesa da mineração em terras indígenas e
contra a “exportação” de refugiados pela Venezuela.
Eleito com apoio do presidente, o governador Antonio Donarium (PSL) foi um dos sete a não assinar a carta dos governadores que, no início da pandemia, protestou contra as ameaças do presidente da República às instituições. Foi em Roraima também que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, foi buscar o empresário e ex-deputado federal Airton Cascavel para o cargo de assessor especial do ministério.
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