Um
infectologista otimista talvez sonhasse com uma vacina contra
a Covid-19 com 95% de
eficácia, mas acho que nem o mais panglossiano deles esperaria dois
imunizantes que oferecessem tais níveis de proteção. Não obstante, foi
exatamente o que vimos nos últimos dias, com dois laboratórios, Pfizer/
BioNTech e Moderna, anunciando resultados dessa magnitude em seus ensaios de
fase 3. Bônus leibniziano extra: ambos os produtos parecem funcionar bem também
para idosos, o que era uma preocupação.
Coincidentemente,
os dois fármacos se valem de uma tecnologia genética nova na produção de
vacinas, a de RNA mensageiro. Resta saber se ela é muito superior às outras ou
se o Sars-CoV-2 é um vírus facilmente “vacinizável”. Vamos saber em breve,
assim que forem divulgados os resultados dos testes de imunizantes que empregam
outras técnicas.
Ainda falta conhecer detalhes importantes, mas, havendo vacinas com tais níveis de eficácia, dá para pensar em controlar a pandemia em escala global ao longo dos próximos dois anos. Tudo dependerá da logística de produção, distribuição e aplicação, que não é trivial. Estamos falando de bilhões de doses, bilhões de seringas (será que não é o caso de reavivar as velhas pistolas de vacinação?) e de enorme mobilização de pessoal.
As
vacinas genéticas, diferentemente das que utilizam outras técnicas, precisam
ser conservadas sob temperaturas muito baixas — 70°C negativos no caso da da
Pfizer. Não chega a ser um impeditivo, já que é possível fazer o transporte
final, de poucos dias, em gelo seco, mas é uma dificuldade,
que exige ainda mais dos planejadores.
Há boas notícias até para o presidente Jair Bolsonaro, que age como um inimigo jurado das vacinas. Com 95% de eficácia, inclusive entre idosos, imunizar-se se torna mais uma questão de proteção individual do que um dever comunitário. Fica mais fraco o caso da obrigatoriedade da vacinação.
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