Experientes
observadores do jogo político dão como alta a probabilidade de o benefício
emergencial continuar a ser pago
A
prorrogação do auxílio emergencial por mais alguns meses já está na mesa. O
ministro Paulo Guedes dificilmente conseguirá escapar desse caminho. Vai se
consolidando uma convergência política para garantir a prorrogação do
benefício, mesmo que pequena (no máximo dois meses).
Experientes
observadores do jogo político dão como alta probabilidade a prorrogação. Essa
percepção também foi passada pelo diretor executivo da Instituição Fiscal
Independente (IFI), Felipe Salto, durante apresentação de relatório mensal do
órgão do Senado que avalia as contas públicas. Por enquanto, o movimento se dá
nos bastidores das negociações políticas que envolvem também as votações de fim
de ano e a eleição para a sucessão dos presidentes da Câmara e do Senado.
Mas
qual a razão para a prorrogação?
A
resposta é que nem o governo nem o Legislativo encontraram outra saída, nem de
transição nem estrutural, para o dia 1.º de janeiro, quando acaba o auxílio.
Faltam apenas 40 dias.
As
incertezas geradas pela velocidade assustadora da alta de casos da covid-19 nos
últimos dias empurram a decisão também nessa direção. A prorrogação do auxílio
pode ser feita por crédito extraordinário, sem orçamento de guerra, e com o
gasto fora do teto. A Emenda Constitucional 95 prevê essa válvula de escape.
O
governo preferiu, nos últimos meses, jogar na retranca por causa das eleições,
deixou de lado a discussão do novo programa social. Sem conseguir consenso para
as medidas impopulares, Guedes passou a apostar na continuidade do programa
Bolsa Família, sem grandes reforços – um refresco para a pressão “fura teto de
gasto” que parte do governo. O mercado financeiro gostou e se acalmou.
O
inusitado é que, agora no mercado, cresce também a corrente de que a
prorrogação pode ser uma saída melhor do que dar espaço para furar o teto numa
votação no afogadilho de fim de ano. “Com a pressão por causa do auxílio
emergencial e a incerteza da atividade no ano que vem, e abrir uma discussão de
PEC agora no final do ano, a chance de entrar uma derrapada fiscal é grande”,
resume o economista-chefe da XP, Caio Megale. Para ele, melhor jogar para 2021
e discutir com mais calma o programa social.
Com
PECs abertas para votação para cortar gastos, a possibilidade de se aprovar uma
exceção no teto para o novo programa social não poderia ser descartada. É só
ver a lista de lideranças influentes que apoiam deixar o programa social fora
do teto, combinado com corte de renúncias tributárias para aumentar a
arrecadação ou tributação do andar de cima, como defende a oposição.
Como
a hora da verdade para as reformas estruturantes não chegou depois do primeiro
turno das eleições municipais e nem vai chegar com o fim do segundo turno, o
pensamento no mercado tem sido que é melhor empatar o jogo nas poucas semanas
que faltam até o início do recesso parlamentar. Ninguém perde ou ganha e fica
tudo para o início de 2021.
O
que se pode esperar até o fim do ano é um avanço na aprovação de novos marcos
regulatórios e outros projetos, que, embora não sejam PECs, são também
importantes. Além da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Já o Orçamento deve
ficar para o ano que vem. Para o primeiro semestre do ano, sobraria a última
janela de avanço das reformas no governo Bolsonaro.
“O
cenário pode abrir uma janela de oportunidade no início de 2021 para avançar na
PEC emergencial, importante para blindar o arcabouço fiscal em 2022, ano
eleitoral”, avalia.
Ponto
importante que mostrou reportagem do Estadão de sexta-feira é o
acordo do governo e lideranças políticas com o TCU para uma regra de transição
para abrir caminho ao empenho de recursos na reta final do ano para obras que
serão executadas ao longo de 2021. O jeitinho que foi cobrado pelos
parlamentares, com crítica ácida ao TCU de “apagão de canetas”, está se
consolidando.
Enquanto
a prorrogação do auxílio não sai, o debate do momento tem sido de que houve
exagero na concessão da ajuda e que muita gente recebeu sem precisar. É bom
lembrar, no entanto, as condições de urgência em que ele foi montado e também
reforçar que o auxílio não tinha como foco somente a contenção da pobreza.
O objetivo do auxílio foi, sim, conter a queda de renda dos informais, mas de modo a propiciar condições para que eles cumprissem o isolamento. O auxílio não seria efetivo como estímulo ao isolamento caso fosse só para pobres ou tivesse valor muito baixo, ainda mais nas metrópoles, onde informais auferem rendimentos maiores e são exatamente os locais de maior aglomeração urbana. Se a piora da pandemia acelerar nos próximos dias, o anúncio da prorrogação pode até vir antes.
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