Mal
celebramos o avanço da diversidade (ainda que insuficiente) nas eleições de
2020, vem o cotidiano violento do Brasil e nos dá um soco no estômago com
o assassinato
de João Alberto Freitas por dois seguranças brancos a serviço do
Carrefour, em Porto Alegre. O sangue no chão, os gritos da vítima e
a sequência de agressões nos lembram que ter a pele negra, no Brasil, é uma
sentença de morte.
Todos
os componentes da cena mostram o quanto o racismo está entranhado na medula da
nossa sociedade. Uma funcionária filma o assassinato com naturalidade e tenta
impedir que outra pessoa continue gravando. Em off, dá para ouvir vozes
justificando o espancamento. Nada justifica o assassinato de João a sangue
frio. Aceitar a lei da selva nos dilacera como sociedade e é um atestado do
nosso fracasso civilizatório.
O
assassinato de João está permeado de ironias amargas. Foi na capital gaúcha
que, nos anos 1970, o movimento negro se articulou para instituir o Dia da
Consciência Negra em 20 de novembro, data da morte de Zumbi, em
1695, líder da resistência no quilombo de Palmares.
O
crime ocorreu na loja de uma corporação global que, no Brasil, é reincidente em
casos semelhantes de violência contra negros. Mais uma ironia é que a rede
tenha planejado lançar uma campanha manifestando o “orgulho” de ter clientes
“de todas as raças e etnias”. Será que a matriz, na França, tem algo a dizer
sobre o tratamento aos clientes no Brasil? Em episódios anteriores, a rede
rompeu o contrato com a empresa de segurança em questão e/ou demitiu
funcionários e ficou por isso mesmo. Não basta. A rede e as empresas de
segurança são co-responsáveis por esses crimes. É a impunidade que reproduz o
ciclo de violência.
Mais
de um século após a abolição, a primeira vereadora negra eleita em Joinville
(SC), Ana Lúcia Martins, recebeu
ameaças de morte. Ela respondeu com a determinação que deve nos
guiar no combate ao racismo: “Nós iremos até o fim. Ninguém vai nos impedir de
ocupar esse lugar”.
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