Nas
capitais, o eleitor não se dispôs a apoiar candidatos vinculados ao presidente
da república
A pandemia não impediu a realização das eleições de 2020. É um marco para a democracia brasileira, tão maltratada ultimamente. Em ano tão atípico e cruel, algo para comemorar. Como sempre, a disputa foi aguda nas capitais, onde os temas locais prevaleceram sem que a política nacional deixasse de ressoar. Novos polos ganharam destaque, deslocando o embate PT x PSDB. Na corrida paulistana, todos bateram em Bruno Covas e tentaram associá-lo ao governador João Doria. O PT minguou, em benefício do candidato do PSOL, Guilherme Boulos. O quadro ficou diferente.
O bolsonarismo procurou sobreviver girando em torno de um "anticomunismo" estapafúrdio, que não adere aos fatos da vida. Nas capitais, o eleitor não se dispôs a apoiar candidatos vinculados a Bolsonaro. Em São Paulo, a aposta em Russomanno foi um fiasco. Assim também no Rio, com Crivella. Os bolsonaristas perderam o ímpeto de 2018, perturbados pela charlatanice errática do presidente.
Despontaram
caras novas: Manuela D’Avila em Porto Alegre, Boulos, Marina Helou e Arthur do
Val em São Paulo, João Campos e Marilia Arraes no Recife. Sinal de que pode
estar amadurecendo uma nova geração política. Entre os candidatos a vereador,
muita disposição renovadora. O fim das coligações para as Câmaras Municipais
fez os partidos mostrarem a cara, mas não ajudou a unificá-los. Os velhos
caciques da política mal apareceram.
Nas
grandes cidades, a disputa foi para saber quem irá ao segundo turno. Na capital
paulista, a candidatura de Bruno Covas à reeleição ultrapassou 30% das
intenções de voto. Chegará com força ao segundo turno, ainda sem saber quem o
enfrentará.
Falou-se
a língua das cidades: mobilidade, transporte, saneamento, enchentes, habitação,
lixo. Os debates entre os candidatos foram pobres. Pouca atenção foi dada ao
problema ambiental, à saúde pública e à batalha contra a covid-19, temas que
dramatizarão a pauta dos próximos gestores. A omissão evidenciou o despreparo
dos candidatos e as incertezas que cercam a evolução do vírus e as perspectivas
de vacinação.
* Professor Titular de Teoria Política da Unesp
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