Sem
Trump, Mourão, governadores, prefeitos e parte dos militares, quem sobra para
2022?
Se
o presidente Jair Bolsonaro insistir nesse ritmo de metralhadora
giratória contra tudo e todos, quem estará com ele na reeleição em 2022?
Bolsonaro não deve eleger um único prefeito de capital hoje, joga o vice Hamilton
Mourão ao mar, cria tensões e cisões desnecessárias nas Forças
Armadas, não entrega reformas e privatizações ao empresariado e ao
mercado, não gera empregos, irrita médicos, professores, o pessoal da cultura e
qualquer um que defenda o verde e a vida.
Quem
sobra? Por questões ideológicas, interesses diretos, conveniências pontuais ou
simples incapacidade de compreender o que se passa, os bolsonaristas dirão que
sobram o Centrão e uma faixa considerável das redes sociais e do eleitorado. É
preciso saber, porém, até onde, e quando, o Centrão e esse eleitor fiel, ou
recentemente conquistado, resistem. As urnas de hoje serão um teste. Trarão
boas respostas e indícios.
O Centrão está de olho na contagem de votos não só para consolidar suas bases como para projetar os próximos passos: as eleições para Câmara, Senado, governos estaduais e Presidência em 2022. O que os líderes de PP, PTB, PL... vão fazer, se o apoio de Bolsonaro se revelar tóxico? Serão fiéis na alegria e na tristeza? As eleições, portanto, devem deixar claros os limites da aliança. É restrita ao Congresso e dura enquanto a caneta tiver tinta. Bagaço de laranja e caneta sem tinta não servem para nada.
Pelas
pesquisas, muito mais confiáveis no Brasil do que nas eleições americanas,
Bolsonaro vai colher derrotas significativas em São Paulo e no Rio e assistir
ao fim precoce da “nova política” que, dois anos atrás, empurrou policiais,
militares, juízes e promotores para governos, Congresso e assembleias.
Exemplos: o juiz Wilson Witzel e o bombeiro Carlos Moisés, já afastados dos
governos do Rio e de Santa Catarina.
O
sonho virou pesadelo. Os eleitos na onda bolsonarista não vão bem das pernas, o
PSL voltou à sua real dimensão e o presidente não conseguiu criar um partido
para chamar de seu. Assim, Bolsonaro vai encerrando o seu segundo ano de
governo se despindo da fantasia do Jairzinho Paz e Amor e abrindo flancos por
todos os lados. Encampou a derrota de Trump como sua, ameaça o futuro presidente
Joe Biden e, hoje, a perspectiva é de derrota interna também.
Sem
aliados externos e internos, nas mãos do Centrão, com horizontes nebulosos na
economia e segunda onda da covid-19 na Europa, era hora de Bolsonaro criar caso
com os militares? A um dos muitos oficiais militares que estão preocupados,
perguntei se o presidente não precisa dormir mais para parar de falar besteira.
E ele: “Sim. E de tomar um remedinho”.
A
moda é dizer que Forças Armadas (FFAA) “são de Estado, não de governo” e os
militares não são parte da política nem querem a política nos quartéis, como
repetiu o general Edson Pujol, que também estava no Seminário de Defesa, na
Escola Superior de Guerra - que, aliás, não teve ninguém do Planalto. No
cafezinho, ele me disse: “Não sei por que tanta repercussão. Eu falei o óbvio”.
O que leva à seguinte reflexão: quando o comandante do Exército precisa dizer
obviedades, é porque elas deixaram de ser óbvias.
Em nota, ontem, o ministro da Defesa e os três comandantes declararam que o presidente “tem demonstrado (...) apreço pelas FFAA, ao que tem sido correspondido”. Por que dizer isso, a esta altura? Isolado no plano internacional, Bolsonaro será derrotado hoje na eleição para prefeitos e tem contra si parcelas expressivas de governadores, juristas, cientistas, médicos, professores, ambientalistas, diplomatas, artistas e analistas. Não satisfeito, bate boca com Mourão, o que divide os militares. Aonde, afinal, Bolsonaro quer chegar?
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