Os
erros dos progressistas
Os
conservadores olham para trás, por isto é importante conhecer os erros dos
progressistas que devem acenar para a construção do futuro.
O
primeiro erro é não perceberem que nos, tempos atuais, Confiança é um fator
determinante para o avanço de qualquer economia. Ela não funciona
satisfatoriamente sem estabilidade monetária, ética na política, instituições
sólidas com regras permanentes, participação no mundo global, capacidade de
poupança, distribuição de renda, paz nas ruas, todos os ingredientes para dar
confiança ao mercado, consumidores e investidores.
O
segundo erro foi não perceberem que no longo prazo o vetor do progresso está na
educação de base com qualidade para todos, tanto para aumentar a produtividade,
criar tecnologia e inovação, além de ser o caminho para distribuir renda.
Os
progressistas, especialmente aqueles mais à esquerda, não perceberam que
“estatal” não é sinônimo de “público”. Este foi o terceiro erro. Uma empresa
pode ser do governo, seus trabalhadores empregados públicos, mas seu serviço
não servir à população, pela má qualidade, pela ineficiência e custo elevado.
Este erro levou-os a preferir apoiar as reivindicações dos sindicatos de servidores
do Estado, do que atender às necessidades da população. No lugar de sociais, os
progressistas ficaram corporativos.
A
base destes erros é que os progressistas não perceberam que os esquemas do
passado para explicar e orientar o processo político-social não se aplicam aos
novos tempos da globalização, da inteligência artificial, da robotização, das
comunicações de massa personalizadas e instantâneas. Por isto, os esquemas de
organização partidária baseada na divisão binária, “a favor” ou “contra”, capital
versus trabalho, estatal contra privado já não servem para orientar o progresso
do país em busca de coesão social e rumo histórico. Isto já aconteceu no
passado, quando muitos progressistas republicanos se opuseram à Abolição da
Escravidão, porque ela chegava pelas mãos de governo conservador e pelas mãos
do Imperador. Eles ficaram prisioneiros dos esquemas políticos tradicionais,
monarquia versus república, sem entender que o progresso não estava no regime
político, mas no trabalho livre e na abertura do país ao comércio
internacional.
Os
progressistas de hoje não respondem ao povo e para o futuro, mas aos eleitores
do momento emperrando a marcha ao futuro. Não é por acaso que depois de 26 anos
no poder, nós progressistas deixamos o quadro social trágico que as estastíscas
divulgadas ontem mostram. Os progressistas também não se livraram da tradição
sociológica de explicar pobreza como falta de renda e não como falta de acesso
aos bens e serviços essenciais, nem todos comprados no mercado.
O
maior erro é ficar preso às ideias do passado e ficarem tão reacionários quanto
os conservadores. Estes olhando para o passado e nós, progressistas, presos ao
presente, olhando para o umbigo.
*Cristovam Buarque foi senador e governador
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