O
cenário mostra recuperação dos partidos de centro e um enfraquecimento da
polarização direita versus esquerda. Isso pode se repetir no segundo turno
Na
elite brasileira, existe muito desprezo em relação à política municipalista,
rivaliza com o preconceito em relação a Brasília. Duas causas destacam-se: (1)
o fato de que sempre haverá políticos espertalhões, falsos moralistas e corruptos,
imortalizados pelo prefeito Odorico Paraguaçu, genial personagem de Dias Gomes,
interpretado por Paulo Gracindo, ainda hoje lembrado, mas em razão da política
nacional; 2) o velho positivismo, que atribui à União a tutela da nação, como
se o povo fosse incapaz de se autogovernar, quando o contrário acontece na
maioria dos municípios brasileiros, apesar da crescente centralização política
do governo federal, embora a Constituição de 1988 tenha dado aos municípios o
status de entes federados.
Os
indicadores mostram que os municípios gastam mais e melhor do que os governos
estaduais e a União, em termos de investimentos públicos e prestação de
serviços básicos, principalmente, nas áreas da saúde e da educação. Nesse
aspecto, as eleições municipais têm colaborado para que essa tendência se
afirme cada vez mais, em termos de qualidade da gestão e do gasto público,
entre outras coisas, por causa da Lei de Responsabilidade Fiscal. Além disso, a
alternância de poder e a continuidade administrativa, como deve ser na
democracia, funcionam como um mecanismo de peso e contrapeso bastante
eficiente, tanto nas metrópoles quanto no Brasil mais profundo. A nota negativa
é o aumento da violência nas áreas de expansão da atuação das milícias, no Rio
de Janeiro e nas periferias de outras metrópoles; e nas regiões de fronteira
agrícola, principalmente no norte do país, nas quais grileiros, madeireiros,
garimpeiros e pecuaristas truculentos tentam tomar o poder político dos
municípios onde atuam.
Nas
capitais, cinco candidatos estão com chances de vencer as eleições no primeiro
turno: Bruno Reis (DEM), em Salvador; Gean Loureiro (DEM), Florianópolis;
Rafael Grega (DEM), Curitiba; Alexandre Kalil (PSD), Belo Horizonte; e
Marquinhos Trad (PSD), Campo Grande. São os exemplos de continuidade
administrativa, seja porque vão para o segundo mandato, seja porque houve
transferência de votos de gestores bem-sucedidos. Nessa linha, destaca-se o
candidato do PSDB em São Paulo, Bruno Covas, que lidera a disputa com folga e
pode surpreender com uma vitória de primeiro turno.
No
universo das capitais e municípios com mais de 200 mil eleitores, neste
primeiro turno, segundo levantamento do site Poder360, grandes partidos
despontam como líderes isolados em muitas cidades: PSDB (15), PSD (8), DEM (7),
MDB e PT (6), PP e Podemos (5 cada), PDT (3), PSB, SD e Pros (2 cada),
Cidadania, PL, PTN, PCdoB e PSol (1 cada). Além disso, em outras cidades,
disputam a liderança: MDB (9), PT (6), PP (5), PSD (4), Cidadania e
Republicanos (3 cada), DEM e Pros (2), PDT, SD, PL, PTB, Rede, PSL e DC (1
cada).
Esse cenário mostra recuperação dos partidos de centro e um enfraquecimento da polarização direita versus esquerda. Isso pode se repetir no segundo turno, mas não significa que será a tendência das eleições de 2022, embora o protagonismo do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha sido reduzido e/ou até negativo no pleito deste ano. Diante da mudança de conjuntura internacional, com a eleição do democrata Joe Biden, e das grandes dificuldades econômicas que o governo enfrenta, o cenário eleitoral — a se confirmar no segundo turno — aponta para uma reestruturação do quadro partidário, forçada pela cláusula de barreira, e uma disputa aberta pela Presidência, na qual Bolsonaro continua sendo o favorito, mas terá dificuldades para se reeleger, correndo risco de virar um Trump dos trópicos.
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