O
colégio eleitoral americano está na berlinda e lhe tem sido atribuído todo tipo
de distorção, como a eleição do candidato em segundo lugar em número de votos.
Mas o fenômeno do "ganhador errado" não decorre dele nem é
tipicamente americano: aconteceu em outros lugares, como a Nova Zelândia nas
eleições de 1978 e 1981.
O
resultado esdrúxulo é produto da adoção da regra majoritária e é independente,
como podemos ver, do sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo).
No caso dos EUA, bastaria que a escolha dos delegados fosse proporcional aos
votos obtidos no estado que as distorções seriam eliminadas mesmo com um
colégio eleitoral. Mas o arranjo persiste, como já discuti
aqui. E é um mito que sempre favorece
os republicanos.
Na
Nova Zelândia, a mudança foi deflagrada por um forte choque: ganhadores errados
em duas eleições seguidas. Ela contou com o apoio dos dois principais partidos
para a realização, em 1992, de um referendo para adoção de um sistema misto,
que foi aprovado por 85%
dos votantes.
As
distorções produzidas pela regra majoritária manifestam-se também no
Legislativo, como ocorreu no Reino Unido quando o Partido Liberal obteve um
quarto dos votos mas só 3% das cadeiras. Mas lá o choque não foi suficiente
para deflagrar uma mudança, e ela foi derrotada em referendo.
No
Brasil também tivemos mudanças induzidas por dois choques --mensalão e
petrolão. Pagamos um custo de transação exorbitante (um fundo multibilionário
de campanha sem paralelo em nenhuma democracia) por uma mudança crucial: a
eliminação do financiamento empresarial de campanha.
Mas
isso é só parte dos dilemas atuais: as instituições são habitadas por atores
com preferências, crenças, aversão ao risco e horizontes temporais distintos.
Suas escolhas importam. Se as preferências entre atores relevantes estão muito
apartadas, o espaço de transações políticas possíveis se contrai.
Pensar
que as instituições criam incentivos uniformes que engendram escolhas similares
é incorrer em hiperinstitucionalismo tolo. As instituições, os atores e suas
escolhas importam.
*Marcus André Melo, professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA).
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