A
decisão do Supremo terá efeito catalisador no processo político, pode
contribuir para transferir expectativas de poder do presidente Jair Bolsonaro
para a oposição
A
maioria do Supremo Tribunal Federal (STF) resolveu levar a plenário, hoje, a
anulação das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela 13a
Vara Criminal de Curitiba, ou seja, pelo ex-juiz Sergio Moro, a pedido do relator
da Operação Lava-Jato, ministro Edson Fachin, autor da liminar que livrou o
petista da inelegibilidade. Fachin entendeu que o foro natural do processo
deveria ser o Distrito Federal, por não se tratar de processo diretamente
vinculado ao escândalo da Petrobras. Com a decisão de ontem do Supremo, por 9 a
2, tanto Lula quanto Moro voltam ao centro do noticiário, como possíveis
adversários do presidente Jair Bolsonaro, ambos com muita força.
Moro,
principal responsável pela condenação de Lula, também sofre desgastes. É
acusado de ser parcial e ter usado recursos inadmissíveis durante a
investigação para condenar Lula e afastá-lo da disputa eleitoral de 2018,
beneficiando Bolsonaro. Ao aceitar o convite para ser ministro da Justiça do
atual governo, de certa forma, o ex-juiz corroborou as acusações da defesa de
Lula. Seu estridente rompimento com Bolsonaro, acusando-o de tentar usar a Polícia
Federal em benefício próprio, manteve a bandeira da ética nas suas mãos, mas
sua atuação como magistrado acabou fragilizada por gravações feitas por hackers
de suas conversas com integrantes do Ministério Público que comandavam as
investigações, desnudando sua parcialidade.
Por
isso mesmo, o julgamento do mérito da liminar de Fachin, que anulou as
condenações de Lula, abrirá espaço, também, para a discussão sobre a atuação de
Moro, cuja suspeição foi aprovada pela Segunda Turma do STF. Não sem razão, o
julgamento terá repercussão eleitoral, tanto do ponto de vista legal — Lula
estará livre ou não para concorrer às eleições — quanto midiático. O Supremo
pode jogar o petista para cima nas pesquisas, mas também alavancará Moro,
que passa de algoz a vítima, como paladino da ética e dos bons costumes, a não
ser que o ex- juiz seja punido severamente e impedido de concorrer.
Decantação
Quem
mais perde com o julgamento é Bolsonaro, que tenta fazer do limão uma limonada.
Ao atacar o Supremo e a decisão de liberar Lula para disputar as eleições, o
presidente da República mantém em sua esfera de influência os setores mais
radicalizados do antipetismo. A aposta do chefe do Planalto é que esse
sentimento garanta o seu lugar no segundo turno das eleições, mas não é bem
assim. A queda dos seus índices de aprovação em razão da crise sanitária e da
recessão e a perda da bandeira da ética podem abrir espaço para uma candidatura
robusta do chamado polo democrático, capaz de capturar o eleitor mais
conservador, porém, insatisfeito com o desempenho do governo e de Bolsonaro.
O julgamento de Lula será o primeiro grande momento de decantação do processo eleitoral. Outro momento será a decisão do apresentador Luciano Huck (sem partido) sobre a proposta de renovação de contrato com a TV Globo, como substituto do Faustão nas tardes de domingo. O terceiro grande lance no xadrez eleitoral é a prévia do PSDB, marcada para outubro, na qual o partido escolherá seu candidato. Disputam a vaga os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Restarão ainda as definições do DEM, em relação ao ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta e do próprio Moro, que não se comporta como candidato.
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