Folha de S. Paulo
Vacinação universal enfrenta obstáculos
para ser adotada
Para a humanidade, a melhor estratégia de
combate à Covid-19 seria vacinar o
quanto antes toda a população do planeta. Esse é o caminho para
reduzir a probabilidade de surgirem variantes mais perigosas do Sars-CoV-2.
Vale ressaltar que, se ainda estivéssemos lidando com a cepa original do vírus,
a epidemia provavelmente já teria sido controlada nos vários países, incluindo
o Brasil, que avançaram na aplicação das primeiras doses. Mas ela não foi
controlada. O vírus muda e continuará a mudar.
Embora a vacinação universal seja a estratégia mais racional, ela enfrenta obstáculos para ser adotada. O maior deles é o localismo. Governantes não respondem ao conjunto da população global, mas a nacionalidades específicas. Esse problema fica claro no dilema que gestores de países ricos agora enfrentam. Ou eles liberam para as nações pobres parte das vacinas que têm compradas ou contratadas, contribuindo marginalmente para uma solução mais estável, ou as guardam para a aplicação de uma terceira dose em seus próprios territórios.
Ainda não há estudos que demonstrem de
forma cabal a necessidade do reforço, mas há a forte suspeita de que ele será
necessário, ao menos para grupos mais vulneráveis, como idosos e
imunodeprimidos. Diante da incerteza, vários líderes já disseram que vão
revacinar parte de sua população. Alguns começaram a fazê-lo, ignorando apelo
da OMS para que as nações pobres não sejam deixadas para trás.
É um dilema social clássico que opõe
interesses particulares de curto prazo aos interesses coletivos de longo prazo.
O localismo e o tempo da política, eleições nacionais a cada quatro anos, fazem
com que a lógica curto-prazista tenda a triunfar. É o mesmo tipo de assimetria
que dificulta o combate ao aquecimento global. Para o líder que vai passar por
uma eleição em breve, sacrificar crescimento é anátema, mesmo que o custo seja
o futuro da humanidade.
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