Revista IstoÉ
Vocalizar odes às ditaduras do continente também fazem parte do cardápio político demoníaco do presidente
Jair Bolsonaro vai continuar atacando as instituições republicanas. Faz parte da sua ação política. Ele não combina com o Estado democrático de Direito. E não é de hoje. Agiu desta forma durante 30 anos de vida parlamentar. Os mandatos serviram para vociferar contra as liberdades democráticas e os valores constitucionais sem que tivesse a resposta adequada, inclusive no campo legal. Agiu à semelhança de Adolf Hitler. O seu confrade alemão utilizou da Constituição de Weimar para destruir a República alemã. Bolsonaro usou e abusou das garantias legais da Constituição Cidadã. Foi tratado como um insano, um cidadão próximo da interdição, absolutamente irresponsável e que, sequer, mereceria algum tipo de resposta dos democratas e, muito menos, do Judiciário.
O tempo foi passando e as diatribes
bolsonaristas foram se transformando em motivo de chacotas, blagues, que eram
repetidas como se merecessem ser apreciadas pelo conteúdo agressivo, mas — e aí
estava um dos erros — inofensivo. Isto acabou levando uma parcela da população
a encontrar no parlamentar uma identidade, uma proximidade com base no senso
comum, típico da filosofia das massas. Bolsonaro entendeu que não bastava ser
parlamentar: era necessário repetir à exaustão um discurso extremista,
antidemocrático, e de defesa da violação dos direitos humanos. Vocalizar odes
às ditaduras do continente também fazia parte do seu cardápio político
demoníaco. Criou um personagem que foi ficando maior a cada fracasso das
instituições na defesa da moralidade republicana, da segurança pública e do
progresso econômico.
A tibieza dos democratas e a miopia
política das principais lideranças do País permitiu que Bolsonaro fosse se
transformando paulatinamente em referência para aqueles desiludidos com a
“velha política.” Sem ter um discurso orgânico, que permitisse apresentar
ainda, que timidamente, uma visão de mundo, ele foi permanecendo nos holofotes
pelos ataques sistemáticos e panfletários à ordem estabelecida. Aproveitando de
um momento — que dificilmente se repetirá — de desgaste institucional, como o
impeachment de Dilma Rousseff, abriu a possibilidade para que apresentasse sua
candidatura à Presidência da República, isto quando não era levado a sério
pelos seus pares na Câmara — basta recordar que teve cinco votos, para a
presidência da Casa.
A tarefa atual é evitar considerar,
novamente, as ações de Bolsonaro simplesmente como falácias. Não são. Ele
representa a maior ameaça à democracia no Brasil.
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