Construir programas sólidos e consistentes
é extremamente difícil. Destruir é possível num estalar de dedos. Nenhum
governo ou partido tem o monopólio das boas intenções.
O Bolsa Família, por exemplo, tem suas raízes no governo FHC através do Bolsa Escola, do Bolsa Alimentação, do Vale Gás, do Benefício de Prestação Continuada e da política de valorização do salário mínimo. O Governo Lula agrupou grande parte desses programas sob o guarda-chuva do Bolsa Família e da continuidade de outras ações. Agora, o Governo Bolsonaro anuncia um aprimoramento desta política de Estado através do chamado Auxílio Brasil. Que mal a nisso? Será que é preciso para se firmar politicamente destruir a memória das ações anteriores? Nada disso.
Na questão ambiental e das mudanças
climáticas é a mesma coisa. Ainda no Governo Collor, o Brasil reivindicou
protagonismo global ao realizar a Rio-92. O Governo FHC ergueu um dos mais
competentes e qualificados marcos legais em busca do desenvolvimento
sustentável. Os Governos Lula, Dilma e Michel Temer aprofundaram este esforço.
É uma pena que, no momento em que a ONU lança um alerta máximo quanto ao
aquecimento global, o Brasil se perca em polêmicas inúteis e promova
retrocessos e descontinuidades.
O SUS, uma política de Estado fundamental, realçada
pela pandemia, teve os seus pilares constitucionais lançados no Governo Sarney
e na Constituinte de 1986. O Governo Collor avançou na desmobilização do velho
INAMPS e sancionou a Lei Orgânica da Saúde. O Governo Itamar Franco criou o
Programa Saúde da Família e o repasse fundo a fundo. O Governo FHC consolidou
definitivamente o SUS, expandiu o PSF, estabeleceu um vitorioso programa contra
a AIDs, lançou os medicamentos genéricos, criou o Piso da Atenção Básica, criou
a ANVISA e a ANS, e estabeleceu a Lei dos Planos de Saúde. O Governo Lula
lançou o SAMU, a Farmácia Popular, o Brasil Sorridente, os Núcleos de Apoio à
Saúde da Família e as UPAs. O Governo Dilma desencadeou a Rede Cegonha, a
regulamentação da vinculação de recursos e o polêmico programa Mais Médicos. O
Governo Bolsonaro se concentrou no combate à pandemia, com todas as polêmicas
envolvidas. Mas o SUS permanece de pé.
A responsabilidade fiscal tem suas raízes
no Plano Real, do Governo FHC, que foi aprofundado com a LRF, a privatização de
bancos estaduais, o PROER, a renegociação das dívidas de estados e municípios.
Lula deu continuidade ao tripé macroeconômico do Plano Real, com Meireles e
Palocci à frente. Dilma fez uma perigosa inflexão a caminho da descontinuidade
e provocou a maior recessão da história. Michel Temer recuperou o fio da meada
e patrocinou a Lei do Teto de Gastos e encaminhou as reformas necessárias. No
Governo Bolsonaro aprovamos a Reforma da Previdência. Agora, interrogações
povoam o horizonte, mas creio que não haverá desvio de rota.
Ou seja, os governos passam e o Brasil é permanente. A inovação é sempre bem-vinda, mas para impor novas linhas de ação não é preciso destruir o passado, no que ele tem de bom.
*Marcus Pestana, ex-deputado federal (PSDB-MG)
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