O Estado de S. Paulo
Essa queda do PIB, de 0,1% no segundo
trimestre em comparação com o nível do primeiro trimestre deste ano, só não é
inteiramente decepcionante porque já era esperada. Mas, por menor que seja essa
decepção, ela é uma pedra adicional a puxar para baixo o crescimento esperado
para este ano.
Também ilusório é o desempenho de 1,8% em 12 meses. Trata-se de comparação com base muito fraca, que foi a derrubada ocorrida em 2020, primeiro ano da pandemia. Em todo caso, dá para contar com um avanço do PIB neste ano de cerca de 5%. Como canta o rapper Emicida nos bailes das comunidades e nas redes sociais: “Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”.
As Contas Nacionais do segundo trimestre
passam outros recados. O primeiro deles é a fragilidade do consumo das
famílias, que teve avanço zero. Mesmo com auxílio emergencial, apesar do valor
reduzido, e certa retomada no emprego, o consumidor não consegue alavancar o
crescimento econômico: tem muita dívida perto do vencimento e uma inflação que
corrói seu poder aquisitivo.
Na ótica da oferta de bens e serviços, a
decepção foi para o setor de agricultura e pecuária: queda de 2,8%. Foram
determinantes a relativa acomodação dos preços das commodities que, por sua
vez, também caíram alguma coisa em consequência da valorização do real (queda
do dólar no câmbio interno), das geadas em algumas localidades e do início do
período de seca. Em compensação, apesar da desorganização do fluxo dos
suprimentos, o baque na indústria foi menor do que o esperado, de apenas 0,2%.
E o setor de serviços, beneficiado com o retorno à atividade econômica com o
enfraquecimento da pandemia, avançou 0,7% – algo mais do que o esperado.
Este PIB mais magro vai pesar negativamente
no resto do ano. A variante delta está deixando de ser fator crítico capaz de
comprometer ainda mais a recuperação. Mas há outros.
O mais importante deles é a crise hídrica.
Até agora, o governo Bolsonaro preferiu esconder a gravidade do problema. Mas
ainda não está sendo suficientemente enfático em preparar a população para
prováveis colapsos da oferta de energia, não só neste ano, mas, também, no próximo.
Por enquanto, o governo limita-se a puxar pelas tarifas e a certos
remanejamentos no despacho de energia. Falta um plano de emergência e, mais do
que isso, falta um programa agressivo de investimentos em energias renováveis
para tentar suprir as deficiências de geração das hidrelétricas. É verdade que
quaisquer investimentos nas modalidades eólica e solar levam mais de um ano
para começar a produzir. No entanto, há razões para entender que esta não é uma
crise passageira. Tende a se agravar. E a mobilização do consumidor para que
ele próprio passe a gerar energia solar fotovoltaica é a maneira adequada de
conscientizar a população para o problema. Em termos imediatos, o agravamento
da crise hídrica deverá atingir especialmente o agronegócio, o setor mais
dinâmico da produção brasileira.
São três os outros fatores críticos que
podem derrubar a produção dos próximos meses. O primeiro deles é a inflação que
ameaça atingir os dois dígitos em 12 meses, já que está sendo agravada agora
com a “taxa de escassez hídrica” que vai encarecer a conta de luz em quase 7%.
O outro é a maior desorganização das contas públicas e da dívida (questão
fiscal), que afugenta os investimentos. E o terceiro fator de risco é a
desordem e a paralisação da administração que podem acompanhar um processo
eleitoral caótico.
Que o Emicida não tenha de atualizar a
letra de sua música com a frase: “Ano que vem vou morrer outra vez”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário