Folha de S. Paulo
Na crise da Ucrânia, ponto de equilíbrio
mais evidente é uma solução diplomática
A guerra é um assunto sério demais para
ficar nas mãos de generais. Foi por isso que cientistas decidiram entrar no
negócio. No Ocidente, fizeram-no principalmente por meio da Rand Corporation, o
"think tank" criado em 1945 que se tornou um parque de diversões para
matemáticos elaborarem cenários de guerra.
Não necessariamente o mundo se tornou mais
pacífico. Alguns desses cientistas podiam ser mais "falcões" que os
militares.
A empreitada, porém, foi útil. Como os matemáticos soviéticos estavam fazendo a mesma coisa que os americanos, desenvolveu-se uma linguagem comum formalizável que permitiu que a Guerra Fria fosse travada com os dois lados atuando sob as mesmas regras de base racional.
Na origem de tudo está o teorema minimax,
que lançou a moderna teoria dos jogos. A ideia geral é encontrar pontos de
equilíbrio que minimizem as próprias perdas supondo que o inimigo tentará
maximizá-las. Parece simples, mas, quando se multiplicam os atores, se leva em
conta o tipo de jogo (soma zero ou não zero) e se preenchem os detalhes, as
coisas podem ficar bem complicadas. De todo modo, a matematização dos jogos de
guerra é algo que veio para ficar. Até os generais tiverem de aderir.
Na crise
da Ucrânia, o ponto de equilíbrio mais evidente é uma solução diplomática.
Tanto a Rússia como a Otan estão mais interessados em manter o "statu
quo" que em alterá-lo. Putin não tem um projeto expansionista. Já a Otan
vem, há vários anos, se expandindo, mas mais por considerações táticas do que
estratégicas. Crescer não é o propósito existencial da organização.
O problema é que, à medida que os jogadores
atuam, eles cometem erros que mudam as contas. Quando a Otan dá sinais de
desunião, por exemplo, sugere a Putin que uma invasão pode sair mais barato do
que ele precificava, hipótese em que morder o Donbass se torna uma alternativa
racional.
É preciso muito cuidado com a razão.
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