O Estado de S. Paulo
A retomada dos investimentos é fundamental
para fomentar o desenvolvimento
A Emenda Constitucional (EC) 95, aprovada no
Congresso Nacional no fim de 2016, fixou uma regra impondo limite de gastos
públicos para os próximos 20 anos. A medida, embora atenda ao “senso comum”,
parte de uma premissa equivocada de que o Orçamento público, como analogia,
deveria se equiparar ao orçamento doméstico: “|Só pode gastar o que arrecada”.
No entanto, essa assertiva não vale para a macroeconomia, já que o Estado tem
funções, assim como prerrogativas, que lhe são próprias.
O problema é que, no Brasil, diante da
dificuldade em restringir os gastos correntes, como despesas decorrentes de
emendas parlamentares, o Executivo acaba instado a reduzir os investimentos.
Não por acaso o nível de investimento público, que já era baixo historicamente,
caiu da média de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) no período 20132016 para
pouco mais de a metade, 2,2%, em 2017-2021.
A queda da participação do investimento público coincide com uma das nossas maiores crises, cuja superação recomendaria justamente o inverso, ou seja, uma atuação anticíclica do Estado para gerar o “efeito multiplicador” do investimento público e provocar o “efeito demonstração” para o setor privado. Aí já temos a grande contradição da questão: a limitação do gasto público engessa o papel do Estado quando ele pode ser mais do que necessário.
O total de investimento da economia, a
Formação Bruta de Capital Fixo, que inclui todos os aportes públicos e
privados, nacionais e estrangeiros em infraestrutura, construção civil e
máquinas e equipamentos, na média dos últimos anos equivale a apenas pouco mais
de 16% do PIB, menos da metade da média de 33% dos países em desenvolvimento. A
retomada dos investimentos é uma condição fundamental para fomentar o
desenvolvimento.
O rompimento do teto de gastos que ora
observamos é totalmente oportunista e eleitoreiro e pouco tem a ver com a
crítica acima. O governo federal e seus aliados no Congresso Nacional estão
“passando a boiada”, com a aprovação da chamada “PEC dos Precatórios” e as
emendas parlamentares.
No entanto, independentemente do descalabro
em curso, insustentável, é preciso repensar regras fiscais intertemporais,
tendo em vista a preservação dos investimentos públicos como instrumento de
política econômica. Obviamente respeitando-se a responsabilidade e os
princípios republicanos.
*Antonio Corrêa de Lacerda Presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon) e professor-doutor do Programa de Pós-graduação em Economia Política da PUC-SP. É autor de ‘O Mito da Austeridade’ (Contracorrente).
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