Folha de S. Paulo
A predição é um sonho que não está à
disposição de historiadores
A invasão
da Ucrânia é o prelúdio da 3ª Guerra Mundial, o início de uma nova e
mais tensa ordem global, ou um evento histórico dramático, mas sem repercussões
duradouras? A resposta é bem anticlimática: não dá para saber.
Como o futuro é contingente, os três cenários —e todas as variações concebíveis— ainda podem se materializar. O que sabemos é que as situações mais extremas, pelo simples fato de serem em menor número do que as intermediárias, são menos prováveis. Também sabemos que, por razões evolutivas óbvias, tendemos a superestimar a gravidade das crises presentes. Isso não significa que nossos piores pesadelos nunca se concretizem, mas apenas que eles já assombram nossas mentes mesmo que nunca se tornem reais.
Duas décadas atrás, em 11 de setembro de
2001, nós nos perguntávamos, ainda atônitos, se o ataque de Osama bin Laden aos
EUA nos lançaria num conflito global. A realidade não foi tão extrema, mas
houve repercussões, em especial para afegãos, iraquianos e passageiros de
avião. O desastrado fim da intervenção americana no Afeganistão, aliás, está
entre os fatores que estimularam Putin a lançar-se sobre a Ucrânia.
Se algumas ciências naturais podem nutrir a
pretensão de fazer predições e acertá-las, esse é um sonho que não está à
disposição de historiadores. Pesquisadores de ciências sociais até podem
encontrar princípios gerais que funcionarão num grande número de casos, mas
terão dificuldades para fazer previsões. A grande verdade é que, se já é
difícil tentar adivinhar o que vai acontecer com elétrons e fótons, a coisa
fica muito perto do impossível quando envolve pessoas, que estão sujeitas a um
número muito maior de estímulos concorrentes e ainda reagem às próprias
previsões dos cientistas, com o intuito de frustrá-las.
Como uma vez observou Richard Feynman,
"pense em como a física seria muito mais difícil se os elétrons tivessem
sentimentos".
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