Folha de S. Paulo
Ana Cristina Rosa fez a síntese definitiva:
'nem todos os olhos são azuis, mas todo sangue é vermelho'
Desde a Antiguidade, uma guerra pode ser
contada de muitos pontos de vista. A nova ordem mundial dela resultante, os
lances do xadrez geopolítico, as vitórias militares, os lucros da indústria
armamentista, tudo isso conta uma parte da guerra.
Há outras maneiras, porém, e o jornalista
norte-americano John Hersey mostra isso muito bem no seu clássico
livro-reportagem "Hiroshima". Hersey escolheu meia dúzia de
sobreviventes do ataque nuclear dos Estados Unidos ao Japão, em 1945, para
escrever sobre a guerra na sua dimensão mais singular e humana.
As histórias condensam a dor, o horror e o desespero provocado por um dos maiores crimes de guerra, jamais julgado. Estima-se mais de 200 mil mortos em Hiroshima e Nagasaki, desintegrados, em minutos, nas chamas do cogumelo atômico.
Setenta e sete anos depois, quem ameaça
apertar o botão da hecatombe nuclear é a Rússia, em sua guerra contra a Ucrânia,
os Estados Unidos e seu braço na Europa, a Otan. A cartada nuclear e a
agressividade do invasor provocaram a justíssima e urgente solidariedade aos
ucranianos e acenderam o alerta e o medo de uma terceira guerra mundial em solo
europeu.
Terceira guerra? Na Europa, sim (se
considerarmos os Bálcãs um conflito localizado). Mas o que foram a Guerra Fria
(Coreia, Vietnã, guerras colonialistas na África e na Ásia), a chamada Guerra
ao Terror (Afeganistão, Iraque, Síria) e muitos outros confrontos se não decorrência
da disputa de hegemonia entre as grandes potências?
Guerras sempre existiram nas periferias do
mundo desenvolvido, com seus rios de sangue e sofrimento, crises humanitárias e
milhões de refugiados. A estupidez da guerra faz a espécie humana retroceder ao
estágio primitivo de selvageria, seja qual for o canto do mundo onde ocorra.
Sobre isso, a colunista Ana Cristina Rosa elaborou a síntese definitiva:
"Embora nem todos os olhos sejam azuis, todo sangue é vermelho". Uma
verdade que o mundo inteiro precisa ouvir.
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