Representantes
do mercado têm apoiado propostas, mas ainda mantêm ceticismo sobre o PT
O
mercado tenta encontrar junto aos interlocutores do PT as linhas-base do
projeto econômico para enfrentar o que os formuladores do partido chamam da herança
do País de “dois dígitos” do governo Bolsonaro: desemprego (11,1%), inflação em
12 meses (12,13%) e juros (12,75%).
Hoje,
nenhum dos interlocutores fala oficialmente em nome do ex-presidente Lula. A
orientação é escutar as demandas do mercado, com a liberdade de emitir opiniões
pessoais sobre os temas levantados nas reuniões. Alguns temas têm aparecido de
forma recorrente nas reuniões, e algumas falas estão sendo bem recebidas pelo
mercado, segundo apurou a coluna.
O
anúncio da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, de manutenção do Roberto Campos
Neto no BC retirou a tensão sobre a política monetária em um terceiro mandato
de Lula. Sinalizou simultaneamente a manutenção de um presidente do Banco
Central bem-visto pelo mercado e o respeito ao atual arcabouço legal, sem
rupturas.
No tema fiscal, a ênfase dada é de que o teto foi derrubado pelo próprio presidente Bolsonaro com tudo que foi feito no campo dos precatórios, orçamento secreto e medidas fura-teto. A política proposta é enfrentar à “luz do dia” o debate da qualidade dos gastos focando nas despesas que fazem mais sentido na construção de uma trajetória do endividamento crível ao longo do tempo, garantindo que as receitas e PIB crescerão mais do que a dívida.
Para
isso, seria preciso uma abordagem de evolução do Orçamento no tempo, fazendo
com que despesas menos “férteis” ao desenvolvimento perdessem participação no
PIB e no Orçamento, enquanto investimentos ganham importância relativa.
No
âmbito do investimento, a proposta é de mecanismos de contratação pública mais
modernos, em parcerias com o mercado para alavancar recursos da iniciativa
privada com garantias da União, em setores e serviços públicos que colaborarem
mais na transição energética, mobilidade urbana, saneamento, tratamento de
resíduos sólidos, habitação de interesse social, educação e saúde. Esse é um
modelo que pressupõe o pagamento por disponibilidade de serviço para ampliação
da oferta de serviços públicos essenciais, diferente de como é feito hoje.
No tema trabalhista, os empresários gostaram do sinal de que a revogação não implica uma volta ao passado, mas uma mudança que levará em conta a nova realidade do mercado de trabalho, acentuada pela pandemia. Os representantes do mercado têm gostado e apoiado as propostas, mas apresentam ceticismo quanto à sua aceitação dentro do PT. O que se espera é que essas lideranças empresariais e o PT saiam da toca e comecem a fazer o debate público.
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