sábado, 14 de maio de 2022

João Gabriel de Lima: Faça política, não faça guerra

O Estado de S. Paulo

Para atrair os jovens, os políticos precisam criar um debate mais civilizado

Num momento em que 2 milhões de cidadãos jovens se tornam aptos a votar nas eleições de outubro, é fundamental ler a pesquisa “Juventudes e Democracia na América Latina”, patrocinada pela rede filantrópica Luminate. Ela quebra vários clichês a respeito do assunto. O principal deles é que os jovens não gostam de política, não querem participar e são céticos quanto à democracia.

“Os jovens querem, sim, participar”, diz a cientista política Camila Rocha, uma das coordenadoras da pesquisa, ao lado da socióloga Esther Solano. “O problema é que muitos deles veem a política como uma guerra, onde opinar pode significar perder o emprego ou brigar com a família”, diz Camila Rocha, entrevistada no minipodcast da semana. Eis uma das conclusões importantes da pesquisa: para atrair os jovens, os políticos precisam criar um debate mais civilizado.

Outro achado é que os jovens raramente procuram os partidos políticos, considerados pouco permeáveis a caras novas e ideias novas. No topo da escala de credibilidade aparecem organizações não governamentais e universidades. Em vez de entrar na juventude dos partidos, os jovens preferem militar no movimento estudantil ou em ONGS com causas claras, como as ambientais, raciais ou de gênero.

A pesquisa entrevistou em profundidade 60 jovens de 16 a 24 anos na Argentina, no Brasil, na Colômbia e no México.

“Uma surpresa para nós foi ver que o comportamento varia pouco de país para país”, diz Camila Rocha. “A pesquisa qualitativa, ao contrário da quantitativa, nos permitiu entender as vontades dos jovens e suas nuances.”

Entre essas vontades, segundo Camila Rocha, destaca-se a reivindicação de ter algum tipo de educação política, que surgiu em todos os países pesquisados. “Os jovens querem entender como as instituições funcionam, e gostariam que isso fizesse parte do currículo formal nas escolas e universidades.”

A pesquisa cita um artigo dos cientistas políticos Roberto Stefan Foa e Yascha Mounk – este último é o criador do ótimo podcast The Good Fight, O Bom Combate. Eles defendem que partidos, escolas e a imprensa devem mostrar aos jovens que só a política é capaz de resolver os problemas concretos das sociedades.

Não basta, no entanto, só dizer. É preciso fazer. A pesquisa mostra que a geração nativa das redes não é presa fácil de “fake news” – eles sabem checar a veracidade de informações e distinguem sites propagandísticos da imprensa profissional. E, acima de tudo, querem sentir a melhora na prática. Constatar que a geração atual vive melhor que a de seus pais é a melhor propaganda, a longo prazo, para a democracia.

Nenhum comentário: