O Estado de S. Paulo
Para atrair os jovens, os políticos precisam criar um debate mais civilizado
Num momento em que 2 milhões de cidadãos
jovens se tornam aptos a votar nas eleições de outubro, é fundamental ler a
pesquisa “Juventudes e Democracia na América Latina”, patrocinada pela rede
filantrópica Luminate. Ela quebra vários clichês a respeito do assunto. O
principal deles é que os jovens não gostam de política, não querem participar e
são céticos quanto à democracia.
“Os jovens querem, sim, participar”, diz a cientista política Camila Rocha, uma das coordenadoras da pesquisa, ao lado da socióloga Esther Solano. “O problema é que muitos deles veem a política como uma guerra, onde opinar pode significar perder o emprego ou brigar com a família”, diz Camila Rocha, entrevistada no minipodcast da semana. Eis uma das conclusões importantes da pesquisa: para atrair os jovens, os políticos precisam criar um debate mais civilizado.
Outro achado é que os jovens raramente procuram
os partidos políticos, considerados pouco permeáveis a caras novas e ideias
novas. No topo da escala de credibilidade aparecem organizações não
governamentais e universidades. Em vez de entrar na juventude dos partidos, os
jovens preferem militar no movimento estudantil ou em ONGS com causas claras,
como as ambientais, raciais ou de gênero.
A pesquisa entrevistou em profundidade 60
jovens de 16 a 24 anos na Argentina, no Brasil, na Colômbia e no México.
“Uma surpresa para nós foi ver que o
comportamento varia pouco de país para país”, diz Camila Rocha. “A pesquisa
qualitativa, ao contrário da quantitativa, nos permitiu entender as vontades
dos jovens e suas nuances.”
Entre essas vontades, segundo Camila Rocha,
destaca-se a reivindicação de ter algum tipo de educação política, que surgiu
em todos os países pesquisados. “Os jovens querem entender como as instituições
funcionam, e gostariam que isso fizesse parte do currículo formal nas escolas e
universidades.”
A pesquisa cita um artigo dos cientistas
políticos Roberto Stefan Foa e Yascha Mounk – este último é o criador do ótimo
podcast The Good Fight, O Bom Combate. Eles defendem que partidos, escolas e a
imprensa devem mostrar aos jovens que só a política é capaz de resolver os
problemas concretos das sociedades.
Não basta, no entanto, só dizer. É preciso fazer. A pesquisa mostra que a geração nativa das redes não é presa fácil de “fake news” – eles sabem checar a veracidade de informações e distinguem sites propagandísticos da imprensa profissional. E, acima de tudo, querem sentir a melhora na prática. Constatar que a geração atual vive melhor que a de seus pais é a melhor propaganda, a longo prazo, para a democracia.
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