Folha de S. Paulo
Covid e guerra na Ucrânia põem candidatura
de Bolsonaro em risco
A eleição presidencial de 2018 foi
totalmente atípica. Triunfou um postulante que não tinha tempo de TV, recursos
financeiros à farta nem mesmo um partido sólido atrás de sua candidatura. Pior,
Jair Bolsonaro representa um extremo ideológico. Democracias contemporâneas
criaram o sistema de eleição em dois turnos justamente para evitar que esse
tipo de candidato vença.
Os novos números do Datafolha sugerem que o pleito de 2022 será uma disputa mais típica, a segunda mais convencional possível. O cenário mais comum é o presidente que se apresenta para a reeleição ganhar. É o que ocorre em 80% dos casos. Nas situações em que ele perde, quase sempre há uma crise econômica provocando o que se convencionou chamar de "feel bad factor", um mal-estar generalizado que contamina a política. É o cenário que se desenha agora.
O interessante é que, se perguntarmos ao
eleitor as razões de seu voto, ele não necessariamente apontará para a
economia. Mas cientistas políticos, munidos de mapas eleitorais e ferramentas
estatísticas, são capazes de mostrar que é, sim, a economia que dá as cartas.
Uma das mais elegantes demonstrações disso
é a fornecida por Christopher Achen e Larry Bartels, que já comentei
aqui. Analisando os dados das eleições americanas de 1916, eles mostram que
uma série de ataques de tubarões na costa de Nova Jersey quase custou a
recondução ao presidente Woodrow Wilson. O apetite dos bichos estragou a
temporada de férias de verão, arrasando a economia de balneários turísticos,
onde o candidato perdeu até dez pontos percentuais em relação ao pleito de
1912. No final, Wilson perdeu em Nova Jersey e outros estados costeiros, mas
compensou com vitórias em estados longe do mar.
Agora, em 2022, não são tubarões, mas um vírus seguido de uma guerra que colocam a candidatura reeleitoral de Bolsonaro em risco. Como dizem os crentes, Deus escreve certo por linhas tortas.
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