terça-feira, 28 de junho de 2022

Míriam Leitão: Economia mundial e riscos da China

O Globo

A China pode surpreender no segundo semestre, crescendo mais do que o mercado projeta, e isso num contexto de crescimento no Ocidente sendo abatido pelos juros altos. O país está usando velhos métodos de forçar o crescimento, até pelo medo político em relação ao desemprego, que chega a 18,4% entre jovens de 16 a 24 anos. Politicamente, a China entra agora num período de incerteza com a mudança no grupo que comanda o país, ao lado de Xi Jinping, ao fim do período de 10 anos das atuais lideranças. Em relação ao Brasil, os chineses querem manter as conexões, independentemente do resultado das eleições. Esse panorama da China é a visão do embaixador Marcos Caramuru, que foi cônsul-geral no país, embaixador e por fim consultor, morando ao todo 12 anos por lá.

— Os chineses são pragmáticos em relação ao Brasil e agora estão mais isolados do mundo, pela pandemia, pela guerra da Rússia e, principalmente, pela perda do diálogo com os Estados Unidos no governo Biden. Os erros do governo Bolsonaro não são suficientes para os chineses perderem o interesse no Brasil. Eles não estão num momento em que possam desprezar alianças que têm, seja por vínculos comerciais, econômicos ou políticos. Estão se sentindo isolados. Eles não vão abdicar de ter conexões conosco. Se o PT ganhar, o diálogo fica mais fácil — disse Caramuru.

Na economia, a China passou por um período em que tentou corrigir as distorções criadas pelo modelo de crescimento, usando a regulação para conter, por exemplo, a especulação na área imobiliária, ou o excesso de endividamento dos governos locais. No atual contexto, eles estão de volta aos velhos métodos para forçar o crescimento, como o de permitir o aumento das emissões de bônus especiais pelos governos locais, flexibilizar regras para compra de imóveis, devolver o imposto adicionado pago pelas empresas e investir em infraestrutura.

— Muita gente diz que essas medidas não terão o mesmo impacto do que no passado. Mas algum impacto haverá. Mesmo com o risco do investimento excessivo que não gera produtividade, neste momento o foco é garantir crescimento. Não estão preocupados com os problemas estruturais que esse crescimento pode gerar. Buscam uma alta do PIB de 5,5%. Se ficar abaixo de 4% vai ser um problema para os chineses, pela geração de emprego — explica o embaixador.

Na China, o que se mede é o desemprego urbano e não entram nas estatísticas os moradores da área rural que vão para as cidades trabalhar nas construções. Hoje, 65% da população está localizada nas cidades e, 35%, na zona rural:

— A meta de desemprego para 2022 é de 5,5%. Para atingi-la, o governo espera criar 10,7 milhões de empregos para os que se graduam no ensino médio e nas universidades. O desemprego em maio foi de 5,9%, em abril, 6,1%. Contudo, o desemprego nas idades entre 16 e 24 anos é de 18,4%, o que chama a atenção. Há um medo político de que os que saem das universidades possam questionar o sistema e o regime políticos.

Este ano será fundamental na estrutura de comando da China porque no Congresso do Partido Comunista haverá a escolha dos novos integrantes do grupo dos 7 e do grupo dos 50, o Politburo. A cada dez anos isso se renova. A novidade agora é que o presidente continuará sendo Xi Jinping. Na última década ele dominou o sistema político para se perpetuar.

Na política externa, a China passa por um momento delicado após o rompimento do diálogo com os Estados Unidos. Eles esperavam que com o governo Biden pudessem superar parte dos problemas comerciais criados por Trump. Mas não. Biden aprofundou o afastamento, expressando o consenso da sociedade americana de que é preciso “conter a China”. O chinês médio vive a dicotomia de considerar que o Ocidente é muito arrogante, mas ao mesmo tempo achar muito atraente ter a Disney, o cinema americano, e, ao viajar, preferir Nova York ou Barcelona.

Em termos comerciais, a Europa é muito mais importante para a China do que a Rússia. Por essa e outras razões, na visão de Caramuru, a guerra não interessa à China, apesar da posição que o país adotou. Mas eles viram no episódio que a economia do dólar pode ser perigosa para eles e, a longo prazo, vão tentar aumentar o comércio em moeda local e fortalecer o seu sistema de pagamentos. Neste momento, contudo, o que eles querem é manter o crescimento.

2 comentários:

Anônimo disse...

Brasil só apresenta ladroes para votarmos portanto não votaremos enquanto não arranjarem candidato os honestos. Pouca vergonha só.

ADEMAR AMANCIO disse...

Estados Unidos versus China,quem diria!