O Estado de S. Paulo
Impeachment para ‘salvar a própria pele’ se baseia em premissas que não têm sustentação nos fatos
A narrativa de que o impeachment de Dilma
foi motivado para liquidar a Lava Jato parte da premissa de que teria sido mau
negócio para o MDB-PSDB, e que, por conta dele, foram dizimados das eleições em
2018.
Mas será mesmo que não existiriam ganhos de
curto prazo para tais partidos com o impeachment? Deveriam esperar até 2018 se
poderiam ter acesso ao poder já em 2016?
Foi a partir dos resultados do governo Itamar, pós-impeachment de Collor, que as portas se abriram para dois mandatos consecutivos do PSDB. Os partidos que romperam com Dilma, após anos de má gerência de coalizões do PT, se engajaram no impeachment com expectativa de ganhos similares.
O governo Temer estava sendo bem-sucedido
na economia, que apresentava claros sinais de recuperação. No Legislativo,
aprovou várias reformas a custo baixo. Esses resultados foram fruto das
escolhas de Temer, que, ao contrário do PT, montou sua coalizão ideologicamente
homogênea e que espelhava a preferência do Legislativo. Além disso,
compartilhou poderes e recursos de forma proporcional com parceiros. Não foi
coincidência o fato de sua coalizão não ter quebrado mesmo diante de dois
pedidos de impeachment da PGR.
Provavelmente, um candidato do MDB-PSDB
seria competitivo nas eleições de 2018. Entretanto, não contavam com o fato de
Temer e Aécio terem sido flagrados em conversas suspeitas com Joesley Batista.
Não faz sentido supor que o impeachment, por si só, inviabilizaria suas chances
eleitorais em 2018. Pelo contrário, tinha o potencial de catapultá-las.
Se admitirmos que existia uma conspiração
para frear a Lava Jato via impeachment de Dilma, seria esperado que medidas
concretas nessa direção fossem tomadas. Temer poderia ter nomeado na PGR um
Augusto Aras, como fez Bolsonaro. Em vez disso, nomeou Raquel Dodge, que fazia
parte da lista tríplice dos procuradores.
Dodge defendeu que o orçamento da Lava Jato
deveria ser triplicado: “Nossa instituição apoia a atuação contra a corrupção
empreendida no âmbito da Lava Jato, de modo a fixar o montante solicitado pela
força-tarefa”. Solicitou que a PF investigasse os R$ 51 milhões no bunker de
Geddel (MDB). Pediu a prisão de José Yunes, amigo e ex-assessor de Temer.
Reiterou denúncia contra Aécio (PSDB) por corrupção e obstrução da Justiça.
Esses fatos desautorizam interpretações de
que o impeachment e o governo Temer tiveram objetivo de acabar com a Lava Jato.
O que fundamentalmente motivou partidos de centro com o impeachment de Dilma
foi a expectativa de ganhos no presente para garantir o futuro.
*Professor titular FGV Ebape e sênior fellow do Cebri
Um comentário:
Temer-Traidor.
Tá.
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