Jennifer Gularte / O Globo
Conhecido por articular palanques, ex-governador de SP avalia que reforma ministerial vai se impor quando siglas da base precisarem escolher de que lado estarão em 2026: do presidente ou do bolsonarismo
O senhor é do PSB, mas há ministros de outros
partidos não alinhados ao governo. O modelo de coalizão está funcionando?
É difícil ser engenheiro de obra pronta. Nós
chegamos até aqui com 95% de tudo o que mandamos aprovado. Então, não dá para
dizer que não foi bem-sucedido. Mas a nossa angústia coletiva, dos políticos e
jornalistas, se encerrará no final desse ano. Quando acaba a eleição de
prefeito, começa a de governador e presidente. As nuvens vão se adensar para
dois campos específicos: um liderado pelo governo de São Paulo (de Tarcísio de
Freitas) e talvez a prefeitura de São Paulo (com a possível reeleição de Ricardo
Nunes), contra o campo nacional (do governo Lula). Então, vários partidos que
têm posições importantíssimas dentro do governo vão ter que tomar uma decisão
difícil. Se o parlamentar vai mudar de partido e ficar com o governo federal ou
se irá se embarcar na aventura paulista.
São Paulo será o contraponto? Como será esse
jogo?
É muito difícil imaginar que alguém tiraria uma eleição do Lula. Depois de preso, todo arrebentado, todo chamuscado, ele ganhou uma eleição... Essa é a sensação, ainda mais em condições plenas, com poder na mão e sem o principal concorrente (Jair Bolsonaro) na disputa. A pessoa escolhida para disputar a eleição contra o Lula, mesmo sabendo que provavelmente vai perder, naturalmente se transformará no próximo candidato a presidente mais forte do país. Acho meio inevitável o Tarcísio ser candidato. Ele será empurrado para essa disputa. Querendo ou não, é o nome mais forte, um moço educado, não tem aquela coisa mais dura, bruta do Bolsonaro.
Será necessária uma nova reforma ministerial
pós-eleições municipais?
Faz sentido, porque nós vamos para aquele
afunilamento para ver quem vai ficar (com o governo). Hoje, por exemplo, o MDB
é o adversário principal (do governo). Tem o candidato que teoricamente
representa o bolsonarismo na capital em São Paulo. O MDB de São Paulo também
controla o MDB nacional. O MDB também controla duas pastas vitais, do ponto de
vista financeiro, Transportes e Cidades. Mesma coisa pode se dizer com relação
ao PSD e União Brasil. Certamente, no pós-eleições, nós teremos necessidade de
fazer o rearranjo. O MDB do Nordeste tem muita afinidade com o presidente Lula,
mas não têm o controle numérico do partido.
O governo abriu espaço para o Centrão, mas
tem sofrido derrotas no Congresso. Por quê?
O governo permitiu a desculpa que eles
(parlamentares) queriam para poder votar a favor. Se eu não faço parte do
governo, voto contra. Agora, se faço parte do governo, pelo menos um pouco eu
voto a favor. Hoje, com esse número de padrão e valores de emendas, ter
ministério ou não passou a ser um pouco secundário. O valor expressivo das
emendas é muito mais decisivo para o efeito de ter rapidez e votação.
Alckmin (PSB) poderia ajudar mais na
articulação política?
O Alckmin é um ser fora dos padrões naturais.
Não tem um tipo de ambição. Não bebe, não fuma, não vai para restaurante, não
tem hábitos de coisas normais. Claro que ele gostaria de continuar servindo.
Estive com ele na China e pude perceber que, de toda a trajetória linda de
vida, foi o ápice da carreira. Ele estava representando um país grande em
conversa com o presidente da China. Ele é muito preparado, um estudioso,
metódico, mas não avança um milímetro do farol. Imaginar que ele vai
reivindicar algo para ele? Esqueça. Inegavelmente é um polo de atração do mundo
empresarial. Mas ele não é um articulador de Congresso.
O senhor já disse que Lula “tem que ajudar a
buscar opções” para um sucessor. O presidente reforçou esta semana que pode ser
candidato em 2026. Isso atrapalha?
O coração do presidente, se pudesse escolher,
seria o (Fernando) Haddad (ministro da Fazenda) o seu sucessor. A admiração que
ele tem pelo Haddad, a correção do Haddad... O Haddad é idôneo, nos mesmos
moldes do Alckmin. É radical. Agora, Lula é muito intuitivo. Ele sabe que
talvez não seja fácil fazer esse movimento. Se o Lula tivesse, por exemplo, com
90% de aprovação, acho que ele poderia fazer uma opção pelo Haddad, mantém o
vice e ele vai se recolher. Mas, quanto mais equilibrado, mais nós necessitamos
do Lula.
Lula está pessoalmente empenhado em eleger
Guilherme Boulos em São Paulo. Na hipótese de derrota, o presidente sairá
enfraquecido?
Se for no segundo turno, não acho relevante.
Relevante seria uma derrota no primeiro turno; o Ricardo Nunes ganhar no
primeiro turno. Por isso, a existência da Tabata (Amaral, como candidata)
tranquiliza. Com ela, dificilmente será em um turno. Com Pablo Marçal, é
praticamente impossível. É sempre bom ganhar, mas não seria derrota grave, se
for segundo turno.
O PSB deixou encaminhado o apoio a Elmar
Nascimento na sucessão de Arthur Lira. Defende que esse seja o caminho de Lula
também?
Essa conversa não passou por mim. Li uma
conversa dele (Elmar) com o João Campos (PSB), que hoje é quem nos lidera
nacionalmente. Se João entendeu assim, ele tem seus motivos, mas vamos ter
reunião na semana que vem do núcleo mais duro do partido para tentar esclarecer
isso. Essa é uma decisão que tem a ver com o próprio governo, unificar as
posições do governo facilitam para nossa defesa.
O que foi possível fazer no ministério de
Micro e Pequenas em seis meses?
Basicamente criar uma voz dentro da estrutura da economia do governo a respeito dos pequenos e MEIs. Conseguimos fazer o Desenrola da pessoa jurídica e, a partir de julho, vamos ter o Pro Crédito 360, que é outra medida bem impactante. Trinta e cinco mil empresas no Brasil já desenrolaram as suas dívidas. Entrou o episódio do Rio Grande do Sul (a devastação do estado por conta das enchentes), lá tem um programa específico e já chegamos a 13 mil empresas, que foram abertas a partir desse dinheiro que subsidiamos. Estimamos poder chegar perto de 100 mil empresas, desses mais afetados.
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