O Estado de S. Paulo
No populismo, seja de direita ou de esquerda, sempre existe a necessidade de confrontar instituições
“Aí resolveram entender que era importante
que tivesse um Banco Central independente e com autonomia. Ora, autonomia de
quem? Autonomia para servir e atender a quem?” A reposta a essas perguntas
proferidas pelo presidente Lula na semana passada seria a seguinte: do senhor
mesmo, presidente!!!
Políticos eleitos, em qualquer democracia do mundo, têm muitas dificuldades para lidar com agências e organizações reguladoras autônomas com prerrogativa de decidir políticas públicas e potencial de contrariar as suas preferências de curto prazo.
Essas dificuldades são particularmente
relevantes quando há alternância de poder com a chegada de uma nova elite
política no governo com preferências diferentes das do governo antecessor. Em
razão de possuírem mandatos não coincidentes, o novo governo teria que conviver
com diretores de agências e organizações regulatórias indicados pelo anterior.
O populismo tem várias faces. Mas, seja ele
de direita ou de esquerda, alguns elementos estão sempre presentes. Um deles é
a necessidade de confrontar e de fragilizar instituições que lhes causem
restrições políticas e institucionais.
Quando não conseguem “bypassar”
oportunisticamente tais restrições, o confronto passa a ser a estratégia
dominante.
Populistas acreditam que possuem a
legitimidade do voto popular que os elegeram e os trouxeram para o poder e,
portanto, não deveriam se submeter às preferências políticas de burocratas
indicados por governos que foram derrotados nas urnas.
Não percebem a importância da continuidade
das políticas públicas, conferidas justamente pela manutenção de uma estrutura
organizacional estável que os impeçam de agir de forma irresponsável. Preferem
perder a credibilidade com investidores, agentes econômicos e com a própria
sociedade ao invés de desenvolverem compromissos críveis com uma agenda de
políticas públicas, especialmente as econômicas, sem sobressaltos.
Assim como Bolsonaro não podia prescindir de
um discurso radicalizado, polarizado, confrontacional e de perfil populista
para alimentar a sua base eleitoral identitária, Lula também parece não poder
prescindir de tal estratégia.
Diante dos claros desajustes fiscais
produzidos pelo crescimento irresponsável dos gastos obrigatórios implementados
pelo seu próprio governo, Lula sabia que suas preferências de diminuição da
taxa de juros muito provavelmente seriam contrariadas pelo Copom. Mas ao invés
de fazer o dever de casa, preferiu, como é comum entre populistas, transferir a
culpa para a autonomia do Banco Central.
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