Folha de S. Paulo
Prescindindo de qualquer autonomia, Nunes
optou por delegar a indicação da vice de sua chapa
Caso Ricardo Nunes ganhe
as eleições, São Paulo será
governada pelo bolsonarismo. Com Nunes na prefeitura, e Tarcísio
de Freitas no governo do estado, os mais de 44 milhões de paulistas
ficarão sob a batuta da extrema direita. Da mesma forma que Tarcísio não
conseguiu ter qualquer independência em relação a seu padrinho político, agora
é a vez de Nunes se curvar de vez a Jair
Bolsonaro.
Prescindindo de qualquer autonomia, Nunes optou por delegar a indicação da vice de sua chapa ao governador do estado. Tarcísio, que encontrou seu lugar ao sol na extrema direita posando de paladino contra o crime organizado, achou por bem escolher o coronel da PM Melo Araújo, ex-comandante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), conhecida por ser a tropa mais letal da Polícia Militar paulista.
Bolsonarista de carteirinha, as postagens do
coronel no Instagram resumem bem seu perfil: vídeos e fotos com Bolsonaro,
vídeos de protestos de bolsonaristas, fotos com armas, fotos com Tarcísio de
Freitas, mais fotos e vídeos com Bolsonaro, e vídeos em que aparece fazendo
flexões, barra e levantamento de peso.
A opção de Tarcísio pelo coronel, no entanto,
parece ter agradado apenas Jair Bolsonaro e o também bolsonarista Pablo Marçal,
cuja recente candidatura à prefeitura reúne cerca de 10% das intenções de voto.
O MDB,
partido do prefeito, deixou clara sua insatisfação. A escolha também pouco
agradou Milton Leite, presidente da Câmara Municipal de São Paulo. Reeleito
pela quarta vez consecutiva em dezembro do ano passado, o vereador é tido por
vários políticos como o prefeito de fato da cidade pelo poder que exerce na
capital. Para minimizar os danos, foi preciso fazer uma articulação com o União
Brasil, partido que abriga Leite.
O próprio Ricardo Nunes havia recebido o
apoio de Bolsonaro de modo hesitante até agora. Ora aparecia com o padrinho,
ora o escondia, a depender do contexto. Seu receio é perder eleitores que não
simpatizam com o ex-presidente, os quais são maioria na capital.
Em 2022, não só Bolsonaro perdeu para Lula na
cidade, que registrou 53% dos votos válidos para o petista e 46% para o capitão
reformado, mas Tarcísio de Freitas também perdeu para Fernando
Haddad, obteve apenas 45% dos votos contra 54% do atual ministro, números
semelhantes ao da eleição presidencial.
Até o momento, boa parte dos eleitores ainda
não conhece os apoiadores de cada candidatura. Nunes, até poucos meses atrás,
era um nome praticamente desconhecido dos paulistanos, o que em parte, o
favorecia, pois vários de seus potenciais eleitores o associavam à imagem de
Bruno Covas. Agora o jogo mudou.
Durante a campanha, Nunes já vai ter bastante
trabalho para se defender das acusações de violência
doméstica, lavagem
de dinheiro, superfaturamento e gastos
exorbitantes em obras emergenciais —entre janeiro de 2022 e outubro de
2023 foram gastos R$ 3,7 bilhões em contratos emergenciais, 295% a mais do que
os últimos quatro prefeitos juntos. Porém, o desgaste vai se tornar ainda maior
quando o atual prefeito tiver que revelar que, agora, com sua candidatura, os
tempos de "Rota na rua" estão de volta em São Paulo.
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