O Globo
Entes federados e Poderes da República
necessitam colaborar entre si para enfrentar os desafios
Boa parte da crise institucional brasileira
advém da descrença na política e no Estado e da baixa qualidade de suas ações —
mas também de como são elaboradas as políticas, sem participação social
qualificada. A isso somam-se a desorganização e a desmobilização dos setores
populares, diante da distância dos mecanismos de decisão. São fóruns e horas de
debate com pouca eficácia e lentidão da burocracia estatal ante as agonias do
povo. A distância se torna maior devido ao calendário de eleições bianual, gerando
uma terrível distorção entre as necessidades reais e a retórica eleitoral.
Estive com gestores de diversas posições ideológicas, da direita à esquerda, em razão das tarefas institucionais que me conduzem a uma posição pragmática pelos interesses das favelas e à disposição de diálogo com todos. Encontrei governadores como Ronaldo Caiado, Elmano de Freitas, Tarcísio de Freitas, Fátima Bezerra, Helder Barbalho, Cláudio Castro, com os ministros Renan Filho e Ricardo Lewandowski, para citar alguns. Há consenso de que os entes federados e os Poderes da República necessitam de colaboração entre si para enfrentar os grandes desafios nacionais, apesar das características locais.
Um exemplo é a segurança pública, a pauta
mais cara à sociedade, confirmada pelas pesquisas como primeira nas
preocupações dos brasileiros, exigindo esforço máximo. Apesar de muitas
iniciativas vitoriosas, a criminalidade e a violência migram e se modernizam,
enquanto o Estado brasileiro é lento e atrasado em seu enfrentamento.
Observamos a disputa de protagonismo e acusações trocadas entre quem fez a
melhor ou a pior política, perdendo a possibilidade de construir consensos e um
sistema único de segurança pública integrado, mais eficiente e menos letal. O
que temos é caríssimo, ineficaz e reprodutor de derrotas seguidas, tanto para a
sociedade quanto para os trabalhadores da segurança pública, que expõem suas
vidas numa guerra sem vencedores. Padecem trabalhadores, pobres e pretos, sejam
eles com fardas ou não.
A superação virá, a meu ver, por meio de
plataforma com agendas comuns, integrando o setor privado moderno,
compromissado com o desenvolvimento nacional das políticas públicas e com
agenda real de oportunidades e distribuição de riquezas, sem perder as possibilidades
que cada ente está a produzir. E, para a sociedade, novos mecanismos de
participação que dialoguem com os setores que definem as políticas públicas,
não os limitando às participações cosméticas que justificam a retórica da
pseudodemocracia. Caso esse contrato social não seja feito, todos
contribuiremos para o afastamento das pessoas da política e puniremos aqueles
que não têm acesso aos salões onde o poder se reúne.
Assim, deixaremos um terreno fértil para
aventureiros, falsos messias e salvadores da pátria canalizarem a insatisfação
popular para o extremismo, transformando a indignação em dividendos eleitorais,
fazendo das nossas dores seu púlpito.
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