Valor Econômico
Com escalada militar no Oriente Médio, economista-chefe a OCDE admite significativo grau de incerteza nas previsões da entidade para crescimento e inflação global
A Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) acaba de publicar novas projeções para a
economia mundial, marcadas por certo otimismo, apesar de persistentes tensões
geopolíticas que podem descarrilhar os melhores cenários.
Em conversa com a coluna, o economista-chefe
da OCDE, Álvaro Pereira, prevê que o crescimento da economia mundial deverá se
estabilizar por volta de 3,2% em 2025, a exemplo da taxa esperada para este
ano, mesmo se há uma diferença grande entre países.
Os EUA crescem 2,6%, acima do potencial, neste ano, e baixam para 1,6% no ano que vem, ou seja, uma economia sempre dinâmica e nada a ver com aterrissagem forçada. Já a zona do euro continuará com expansão lenta passando de 0,7% neste ano para 1,3% em 2025, com a atividade sustentada pela recuperação da renda real e melhora nas condições de crédito.
A China, a segunda maior economia do mundo,
desacelera, passando de 4,9% neste ano para 4,5% no ano que vem. As novas
medidas de estímulo visivelmente não parecem suficientes para compensar a
fraqueza do consumo e a continuação de “correções maciças” no setor
imobiliário.
Para Álvaro Pereira, as boas noticias vêm
principalmente de alguns outros emergentes, como a Índia, que vai crescer perto
de 7%, a Indonésia, mais de 5%, e o Brasil, que tem expansão perto de 3% neste
ano e pode ir além de projetados 2,6% para 2025 em parte graças à alta de
gastos públicos.
Os riscos para o Brasil e outros no ano que
vem são dois, em sua avaliação. Primeiro, o desempenho da China, o principal
cliente do Brasil. Se a economia chinesa continuar a desacelerar, as coisas
podem ocorrer menos bem e o impacto é óbvio também para seus parceiros. O
segundo é se o conflito no Oriente Médio se alargar, tornando a situação global
mais complicada e afetando as economias em geral.
A expectativa é que o crescimento do PIB
mundial venha acompanhado de uma continuação de desinflação, melhora da renda
real e política monetária menos restritiva em várias economias, que ajudarão a
sustentar a demanda.
O economista-chefe da OCDE nota que a
inflação continua a baixar de forma geral no mundo. O México e o Brasil são a
exceção, com alta dos preços em parte por causa da desvalorização da moeda.
Para a entidade, até o fim de 2025 a inflação estará de volta à meta fixada
pelos bancos centrais na maioria dos países do G20. Uma manutenção do preço do
petróleo no nível atual poderia reduzir a inflação global em cerca de 0,5 ponto
percentual no ano que vem.
A inflação projetada para o Brasil é de 4,5%
neste ano e de 4% no ano que vem. Pereira chama atenção para um gráfico que
mostra que o Brasil foi, entre as grandes economias, a que recuperou mais a
renda real após a pandemia de covid-19. Outro gráfico mostra também que os
preços de alimentos cresceram mais que os reajustes salariais, incluindo no
Brasil (cerca de 10% entre 2019-2024).
Para a OCDE, à medida que a inflação baixar e
as tensões nos mercados de trabalho continuarem a se atenuar, será necessário
prosseguir com a baixa das taxas de juros nas economias. Ela calcula que nos
EUA a taxa básica deveria diminuir 1,5 ponto percentual e, na zona do euro,
1,25 ponto percentual suplementar entre agora e o fim de 2025.
A elevação da taxa de juros no Brasil é vista
pela OCDE como uma inversão temporária, como aconteceu também no México e
Canadá, para assegurar a estabilidade dos preços. “É importante que o BC
mantenha a prudência”, diz Pereira.
O crescimento do comércio mundial em volume é
outra boa notícia. O aumento de importações dos EUA, em parte pelo alto de
investimentos em equipamentos, e um dinamismo maior do comércio de emergentes
explicam esse cenário. Na Argentina, Brasil, México e Turquia, a desvalorização
da moeda sustentou o aumento das receitas de exportação. De outro lado, o
comércio continua afetado por um transporte marítimo para contêineres 160% mais
caro do que há um ano em certas linhas entre a Ásia e a Europa.
As novas projeções da OCDE coincidem com a
escalada militar no Oriente Médio. A entidade admite que a incerteza sobre suas
previsões para crescimento e inflação global é significativa. Aponta o risco de
o crescimento desacelerar, em meio a tensões geopolíticas e comerciais que
podem causar disrupções nas cadeias de abastecimento e nos mercados de energia.
Outro risco para o crescimento global é o excesso de endividamento de boa parte
dos países mais pobres, e que precisa de uma solução.
Não ignora também que 30% de títulos de
dívida emitidos por empresas em países desenvolvidos, com juros baixos, chegam
ao prazo de pagamento entre agora e 2026, e essa proporção é ainda mais elevada
nos emergentes, o que pode aumentar as falências de empresas.
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