quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Assis Moreira - OCDE projeta crescimento estável em 2025

Valor Econômico

Com escalada militar no Oriente Médio, economista-chefe a OCDE admite significativo grau de incerteza nas previsões da entidade para crescimento e inflação global

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) acaba de publicar novas projeções para a economia mundial, marcadas por certo otimismo, apesar de persistentes tensões geopolíticas que podem descarrilhar os melhores cenários.

Em conversa com a coluna, o economista-chefe da OCDE, Álvaro Pereira, prevê que o crescimento da economia mundial deverá se estabilizar por volta de 3,2% em 2025, a exemplo da taxa esperada para este ano, mesmo se há uma diferença grande entre países.

Os EUA crescem 2,6%, acima do potencial, neste ano, e baixam para 1,6% no ano que vem, ou seja, uma economia sempre dinâmica e nada a ver com aterrissagem forçada. Já a zona do euro continuará com expansão lenta passando de 0,7% neste ano para 1,3% em 2025, com a atividade sustentada pela recuperação da renda real e melhora nas condições de crédito.

A China, a segunda maior economia do mundo, desacelera, passando de 4,9% neste ano para 4,5% no ano que vem. As novas medidas de estímulo visivelmente não parecem suficientes para compensar a fraqueza do consumo e a continuação de “correções maciças” no setor imobiliário.

Para Álvaro Pereira, as boas noticias vêm principalmente de alguns outros emergentes, como a Índia, que vai crescer perto de 7%, a Indonésia, mais de 5%, e o Brasil, que tem expansão perto de 3% neste ano e pode ir além de projetados 2,6% para 2025 em parte graças à alta de gastos públicos.

Os riscos para o Brasil e outros no ano que vem são dois, em sua avaliação. Primeiro, o desempenho da China, o principal cliente do Brasil. Se a economia chinesa continuar a desacelerar, as coisas podem ocorrer menos bem e o impacto é óbvio também para seus parceiros. O segundo é se o conflito no Oriente Médio se alargar, tornando a situação global mais complicada e afetando as economias em geral.

A expectativa é que o crescimento do PIB mundial venha acompanhado de uma continuação de desinflação, melhora da renda real e política monetária menos restritiva em várias economias, que ajudarão a sustentar a demanda.

O economista-chefe da OCDE nota que a inflação continua a baixar de forma geral no mundo. O México e o Brasil são a exceção, com alta dos preços em parte por causa da desvalorização da moeda. Para a entidade, até o fim de 2025 a inflação estará de volta à meta fixada pelos bancos centrais na maioria dos países do G20. Uma manutenção do preço do petróleo no nível atual poderia reduzir a inflação global em cerca de 0,5 ponto percentual no ano que vem.

A inflação projetada para o Brasil é de 4,5% neste ano e de 4% no ano que vem. Pereira chama atenção para um gráfico que mostra que o Brasil foi, entre as grandes economias, a que recuperou mais a renda real após a pandemia de covid-19. Outro gráfico mostra também que os preços de alimentos cresceram mais que os reajustes salariais, incluindo no Brasil (cerca de 10% entre 2019-2024).

 

Para a OCDE, à medida que a inflação baixar e as tensões nos mercados de trabalho continuarem a se atenuar, será necessário prosseguir com a baixa das taxas de juros nas economias. Ela calcula que nos EUA a taxa básica deveria diminuir 1,5 ponto percentual e, na zona do euro, 1,25 ponto percentual suplementar entre agora e o fim de 2025.

A elevação da taxa de juros no Brasil é vista pela OCDE como uma inversão temporária, como aconteceu também no México e Canadá, para assegurar a estabilidade dos preços. “É importante que o BC mantenha a prudência”, diz Pereira.

O crescimento do comércio mundial em volume é outra boa notícia. O aumento de importações dos EUA, em parte pelo alto de investimentos em equipamentos, e um dinamismo maior do comércio de emergentes explicam esse cenário. Na Argentina, Brasil, México e Turquia, a desvalorização da moeda sustentou o aumento das receitas de exportação. De outro lado, o comércio continua afetado por um transporte marítimo para contêineres 160% mais caro do que há um ano em certas linhas entre a Ásia e a Europa.

As novas projeções da OCDE coincidem com a escalada militar no Oriente Médio. A entidade admite que a incerteza sobre suas previsões para crescimento e inflação global é significativa. Aponta o risco de o crescimento desacelerar, em meio a tensões geopolíticas e comerciais que podem causar disrupções nas cadeias de abastecimento e nos mercados de energia. Outro risco para o crescimento global é o excesso de endividamento de boa parte dos países mais pobres, e que precisa de uma solução.

Não ignora também que 30% de títulos de dívida emitidos por empresas em países desenvolvidos, com juros baixos, chegam ao prazo de pagamento entre agora e 2026, e essa proporção é ainda mais elevada nos emergentes, o que pode aumentar as falências de empresas.

 

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