quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Bruno Boghossian - Pablo Marçal não está fora do jogo

Folha de S. Paulo

Deve ser tarde para grandes mudanças, mas eleitor fiel ainda pode dar ao ex-coach uma chegada firme

Pablo Marçal chega aos dias finais de campanha numa crise de identidade. Entre um lance e outro do jogo sujo que catapultou sua candidatura, o influenciador usa uma voz mansa para confundir o eleitor. "Eu não quero lacrar, mas é minha única saída", declarou, menos de 24 horas após ser expulso de um debate. "Eu não sou esse idiota."

A estagnação nas pesquisas parece ter provocado um curto-circuito na campanha de Marçal. O candidato admite que ainda é dependente da baixaria que o projetou para o primeiro pelotão da disputa, mas também se vê obrigado a ensaiar gestos de suavização para estancar a disparada de seu índice de rejeição. Nenhuma das duas táticas deu muito resultado nas últimas semanas.

O comportamento errático leva Marçal a uma ambiguidade constrangedora. O influenciador não pode confessar aos apoiadores que cometeu um erro, mas precisa fazer ajustes no tom da campanha. Diz que a atuação como bufão foi um movimento calculado, correndo o risco de perder a autenticidade. Oscila entre os papéis de vítima indefesa do sistema e corajoso vingador do povo.

Marçal explora essa ambivalência para calibrar a aposta final de sua campanha, baseada num apelo populista tão baixo quanto explícito. A expressão "revolta popular" apareceu repetidas vezes em sua entrevista à TV Globo nesta quarta-feira (25). Dias antes, ele usava as mesmas palavras para declarar guerra a quem chamava de bandidos. "Chegou a nossa hora de tomar o Brasil de volta", sentenciou.

Há notas de desespero na mensagem do candidato. "Aqui é uma alma gritando para outra", vociferou, em transmissão nas redes sociais, ao lançar a surrada carta do pânico moral: "Nossos filhos estão na escola sendo erotizados. Isso é comum para você?", perguntou.

A retórica é direcionada a dois segmentos cobiçados pelo influenciador em sua busca por um fôlego final: paulistanos de baixa renda (menos decididos de seus votos) e eleitores evangélicos. Talvez seja tarde para grandes mudanças, mas Marçal não está fora do jogo. Seu eleitorado se mostra fiel o suficiente para sugerir que ele pode ser um candidato com uma chegada firme.

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