Bernardo Mello e Caio Sartori / O Globo, 12.10.2024
Ex-opositor do prefeito, petista avalia que
eleições mostraram a importância das alianças e reconhece que estava errado em
críticas do passado
Rio de Janeiro - Ex-opositor de Eduardo Paes (PSD),
o ex-deputado federal e presidente da Embratur, Marcelo
Freixo (PT), afirmou ao GLOBO que o atual prefeito do Rio é o
seu candidato a governador para 2026. O petista justifica o apoio por um
"palanque muito mais forte" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) no estado.
Veja abaixo os principais trechos da
entrevista.
As principais vitórias do PT em 2024 foram
com aliados, como Eduardo Paes (PSD) no Rio, e não com candidaturas próprias. O
que isso significa?
O PT aumentou o número de prefeituras e de
vereadores, mas crescendo em cidades menores. É preciso voltar a crescer nas
grandes cidades. O grande aprendizado é a necessidade de alianças estratégicas
com o campo democrático para além da esquerda. Teve muita vitória da direita?
Sim, mas esse campo democrático também venceu em cidades importantes.
O senhor foi rival de Paes na sua última
reeleição, em 2012, e agora o apoiou. O que mudou?
Fui adversário direto dele quando não existia bolsonarismo. A esquerda e a direita disputavam um sentido de cidade. O Rio precisa sair da lama, e para isso é importante que eu e Eduardo estejamos juntos. Há dois anos, Lula perdeu em nove das dez maiores cidades do Rio, não podemos repetir isso. A vitória da esquerda em 2026 passa por esse campo democrático, que vai precisar de candidatos a governador. Paes cumpre esse papel e é o meu candidato, vou defender isso no tempo adequado. Como a eleição (de prefeito) foi agora, é normal que ele tenha a reação de negar a candidatura.
A aliança não corre o risco de “apagar” a
esquerda no Rio?
A eleição de 2026, no Rio, é para derrotar o
crime, um crime muito bem representado na Assembleia Legislativa do Rio
(Alerj). O PT tinha um prefeito no Rio há quatro anos, agora elegeu três. Tinha
17 vereadores no estado, passou para 27, ou 49 com a federação (que tem PV e
PCdoB). Garantimos um palanque para o Lula muito mais forte.
Que espaço o PT ocuparia nessa chapa com Paes
em 2026?
Vai ser construído dentro de uma aliança
ampla. É evidente que o PT, como partido do presidente Lula, precisa ter um
espaço importante. A eleição do Senado é estratégica, é o foco do bolsonarismo
no Brasil inteiro. Precisaremos de candidatos ao Senado com viabilidade
eleitoral e estratégia eficiente. Não falo de mim, serei candidato a deputado
federal.
O senhor bate na tecla de que Paes é
necessário contra o bolsonarismo. Quando era do PSOL, discordava de vários
aspectos de suas gestões. Passou a concordar?
Eu e Eduardo ainda pensamos diferente em um
monte de coisa diferente, mas a História nos aproximou. O bolsonarismo desloca
a política e, claro, desloca o Eduardo também. Em 2012, uma das grandes
divergências que tive com ele foi sobre transportes, e hoje a pessoa que me
ajudou no programa de governo daquele ano (Maína Celidonio) é secretária do
Eduardo e faz uma série de coisas que estavam no meu programa. O debate sobre
bilhetagem de ônibus, licitação das linhas de van, empresa pública de
transportes, tudo isso fazíamos em 2012 e agora o Eduardo avançou.
E a derrubada da Perimetral, da qual o senhor
e grande parte da esquerda discordavam, e que foi um passo para a revitalização
da Zona Portuária?
Ele estava certo, e nós, errados. Precisamos
ter a grandeza de assumir. Mas havia críticas pertinentes sendo corrigidas
agora, como a necessidade de construção de moradias.
O senhor falava que o antigo PMDB, ao qual
Paes era filiado, era o “grande crime organizado” no Rio. Mantém isso?
Claro. Foi comandado pelo (ex-governador
Sérgio) Cabral e companhia, e todos foram parar na cadeia. Nisso eu estava
certo.
Uma discussão que costuma ter contrariedade
da esquerda é armar a Guarda Municipal, o que agora é defendido por Paes...
Sou contrário e quero convencê-lo disso. A
Guarda tem um papel na segurança pública, mas não pode ser confundida com a
polícia. Agora, como candidato a governador, o Eduardo vai ter que botar a mão
na massa para discutir a segurança pública.
Tarcísio Motta te criticou por pregar “voto
útil” em Paes. Sua relação com os antigos aliados do PSOL nunca mais será a
mesma depois dessa eleição?
Eu não defendi voto útil, e sim um projeto
político que seja capaz de dar uma estrutura de vitória ao Lula em 2026. Fui
respeitoso e nunca citei o PSOL ou o Tarcísio, que é um grande quadro político
e um grande amigo. Não se trata de um projeto pragmático; a esquerda tem que se
reafirmar, mas também tem de ser capaz de garantir ao Lula mais quatro anos de
governo.
O senhor é tachado de “radical” pela direita.
A esquerda vai precisar tirar isso para crescer?
Se radical é não ter diálogo, nunca tive esse
radicalismo. Agora, presidi a CPI das Milícias, que foi radical no combate ao
crime. Radicalismo também significa firmeza para combater a corrupção.
Mas a esquerda consegue passar essa imagem de
firmeza?
Imagem é uma disputa entre quem constrói e
quem tenta destruir. Vimos isso na eleição de São Paulo, com uma proliferação
de fake news.
Guilherme Boulos (PSOL) também fez um
movimento de ampliar alianças, mas sem sair do PSOL. Vai dar certo?
Boulos é um dos caras mais preparados que a
gente tem na esquerda. Se a ampliação foi suficiente ou não, vamos saber no dia
da votação. Essa também foi uma eleição, no Brasil todo, de vitórias da
máquina, o que também nos faz refletir sobre o modelo de democracia que temos
hoje. Por isso digo que uma das tarefas da esquerda é fazer trabalho de base, o
que se traduz hoje em eleger mais vereadores, no caso de uma eleição municipal.
Foi o que procurei fazer em vários municípios do Rio.
O senhor já concorreu duas vezes à prefeitura
do Rio. Ainda sonha em ser prefeito?
Eu sonho com o Flamengo campeão mundial, com
a Mangueira campeã do Carnaval. Isso (candidatura) é fruto de luta e
organização política. Não carrego isso para os meus sonhos, não, eu sonho com
coisa diferente.
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