Cinco anos depois de atos em
Chile, Bolívia, Colômbia e Equador, região enfrenta consequências do ciclo de
manifestações
Neste mês de outubro,
completam-se cinco anos de uma série de manifestações em distintos países
da América do
Sul. Até hoje, esses acontecimentos carecem de interpretação
profunda. Mas uma coisa é certa. Elas expuseram uma grande insatisfação da
sociedade contra o modelo de democracia que vinha funcionando nessas nações.
A agitação foi interrompida
pela pandemia do coronavírus. Depois que a crise sanitária terminou, porém, os
desdobramentos foram inevitáveis.
O mais ressonante desses episódios foi o do Chile, iniciado em 18 de outubro de 2019. Começou com jovens saltando as catracas do metrô contra o aumento das tarifas. Logo escalou para um conflito nas ruas. A violência foi generalizada, os jovens manifestantes picharam a cidade, enfrentaram as forças de segurança com pedras e coquetéis molotov. Foram reprimidos duramente pelo governo de Sebastián Pinera (direita).
As principais reivindicações
eram melhorias nas aposentadorias, a gratuidade das universidades e a inclusão
de minorias. O saldo do conflito foi de 32 mortos.
Também em outubro de 2019,
equatorianos saíram a reclamar de medidas econômicas de Lenín Moreno
(esquerda). O principal embate foi entre sindicatos indígenas e as forças de
segurança. Quito se
viu acuada, com vias bloqueadas por pedras e barreiras de fogo. Os manifestantes
pediam a anulação de um decreto que havia aumentado o combustível e
a renegociação da dívida do país com o Fundo Monetário
Internacional (FMI).
Por trás desses pedidos,
porém, estava uma questão mais profunda e nunca resolvida, a da divisão da
sociedade equatoriana entre as várias nações indígenas e os descendentes de
europeus. Racismo, exclusão e pobreza permaneceram nos conflitos que hoje vive
o país.
Na Bolívia,
as eleições presidenciais de 2019 também abriram um longo período de protestos
e instabilidade. O então presidente Evo Morales (esquerda),
disputando o pleito em desacordo com a Constituição, declarou-se vencedor
depois de um longo apagão no sistema de votação. A violência tomou conta das
ruas até que Evo renunciou. O saldo foi de mais de 30 mortos.
Já na Colômbia,
os distúrbios começaram em 21 de novembro. Os protestos contra o governo de
Iván Duque (direita) mobilizaram estudantes, indígenas e afro-colombianos. O
presidente era criticado pela gestão da economia, mas principalmente por não
ter cumprido vários dos itens do acordo de paz com as Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (Farc), assinado na gestão anterior. No caso
colombiano, o saldo foi de 35 mortos.
Muita coisa aconteceu desde
então, mas a região não voltou a ser a mesma.
O Chile viveu uma mudança
importante. Embora o projeto de redigir uma nova Constituição tenha fracassado,
um governo de esquerda de uma nova formação política acabou com a hegemonia da
Concertação e da direita tradicional.
A Colômbia também optou por
um giro à esquerda, com menos êxito. Embora Gustavo Petro tenha gerado
políticas de inclusão social, sua governabilidade tem estado cada vez mais
difícil.
Na Bolívia e no Equador, a situação ficou mais complicada. Embora os bolivianos tenham podido eleger um governo legítimo, hoje, a ambição de Evo de voltar a ser presidente volta a desestabilizar o país. E o Equador vive uma onda de violência sem precedentes.
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