Folha de S. Paulo
Ninguém discute que a esquerda perdeu, mas a
direita-redes ou a direita-máquina ganhou?
A vitória da direita nas eleições de 2024 foi
o cruzamento de dois tsunamis que atingiram a política brasileira nos últimos
anos. Nenhum é de esquerda.
O primeiro é o surto de extrema direita que
começou com o impeachment de Dilma
Rousseff e ganhou volume com a eleição de Bolsonaro.
Efeitos dessa onda ainda são claramente visíveis nos resultados de 2024: as
listas de vereadores mais votados nas capitais estão cheias de extremistas,
de Carlos
Bolsonaro no Rio a Lucas
Pavanatto em São Paulo.
Bolsonaristas puro-sangue ainda podem conquistar as prefeituras de Curitiba, Fortaleza e Belo Horizonte. Quando parte da liderança bolsonarista tentou se aliar à direita tradicional, seus seguidores se insurgiram a abraçaram extremistas como Pablo Marçal e Cristina Graeml.
A propósito, por algumas horas na noite de
domingo os eleitores cariocas chegaram a se iludir, achando que dessa vez
Carluxo não teria alternativa a não ser dar expediente como vereador. Mas na
segunda-feira o Twitter voltou.
A segunda onda que ganhou volume na política
brasileira nos últimos anos foi o fortalecimento dos partidos políticos,
iniciado após a reforma política de 2017.
Os governos petistas haviam proposto reformas
parecidas por duas vezes antes disso. Se as reformas tivessem sido aprovadas
nos anos 2000, PT e PSDB teriam se consolidado como máquinas partidárias mais
sólidas.
Não foram. As reformas que fortaleceram os
partidos só aconteceram em 2017, nos anos de menor popularidade da esquerda
desde a volta da democracia e de início do surto de extrema direita.
Ouvi de um ex-dirigente petista: já há
direitistas falando de voto em lista fechada, sistema que dá enorme poder às
direções partidárias para determinar que deputados serão eleitos. Nos anos
2000, quando o PT propôs a lista fechada, foi acusado de querer instaurar a
ditadura das burocracias partidárias.
Com isso, os partidos fortalecidos pela
reforma de 2017 foram, sobretudo, os partidos do centrão. O PP, o União Brasil,
o PSD de Kassab são máquinas cada vez mais ricas e poderosas. O Congresso
Nacional, onde o centrão é mais forte, vem a cada dia roubando da Presidência o
controle de um pedaço maior do Orçamento. E os partidos de direita aprenderam
com o PT, que por muitos anos foi a única grande legenda a oferecer formação a
seus militantes, a ter secretaria de mulheres, de jovens, etc.
O Brasil está se tornando um país de
partidos, e as legendas que estão se fortalecendo são as que todo mundo,
tucanos e petistas, black blocs de 2013 e bolsonaristas, achavam as piores.
Ninguém discute que a esquerda perdeu, mas
qual das duas direitas venceu a eleição de 2024? A direita-redes ou a
direita-máquina?
Se o bolsonarismo vencer em Curitiba e Belo
Horizonte, poderá dizer que teve uma boa eleição. Mas os grandes vencedores de
2024 foram as novas máquinas partidárias do centrão, que devem governar a maior
parte dos brasileiros nos próximos quatro anos.
O que não sabemos é se esses partidos fortes
aceitarão o risco de se tornarem partidos que elegem presidente, se aceitarão
ir para o centro do alvo. O último grande partido que fez esse papel pela
direita teve apenas 1,5% dos votos em São Paulo neste ano e não tem mais
vereadores na cidade.
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