quinta-feira, 4 de setembro de 2025

BC trava guerra bélica em múltiplas frentes, por Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Problemas vão da taxa Selic e desaceleração da economia a fintechs e Congresso

Banco Central é alvo de múltiplas frentes de pressão, que transformaram o momento atual numa tempestade perfeita para o presidente Gabriel Galípolo e a sua diretoria.

Numa primeira frente, a crescente insatisfação do governo e do PT com a taxa Selic em 15% diante dos sinais de desaceleração do crescimento da economia e do risco de um PIB menor em 2026, ano de eleições.

Outra batalha é o envolvimento do setor financeiro com o crime organizado, em particular o PCC, via fundos de investimentos e lavadores de dinheiro sujo camuflados de fintechs.

Está muito mais claro que o crime organizado declarou guerra com os ataques de hackers ao sistema bancário. Três desses ataques vieram a público recentemente e foram freados, mas há tentativas frequentes reportadas.

A reação do BC será com novas ações de aperto regulatório nos controles e credenciamento das fintechs e também na fiscalização. Tudo isso exigirá mais dinheiro no orçamento, que o BC não tem.

O anúncio das medidas, previsto para breve, certamente vai desagradar empresários e políticos envolvidos diretamente ou indiretamente com o crime organizado e aumentar a pressão no BC.

A ligação de fintechs com o PCC também tem sido um prato cheio para os bancos pressionarem a instituição a dar uma volta atrás na agenda de maior competição e inovação, implementada nos últimos anos. Há um processo em curso de colocar todas as fintechs no mesmo balaio e desqualificá-las —com o apoio, inclusive, de alguns integrantes do próprio governo Lula.

Os críticos esquecem que foi essa agenda que permitiu a inclusão bancária de milhões de brasileiros de baixa renda, maior concorrência —e, também, de certa forma, o estrondoso sucesso do Pix no Brasil.

De todas as frentes de pressão, a mais perigosa é a ofensiva do centrão para aprovar projeto que dá ao Congresso Nacional o poder de demitir diretores e o presidente do Banco Central. Além de botar a faca no pescoço da diretoria do BC, tem cheiro de pura chantagem às vésperas da decisão da compra do Master pelo BRB.

 

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