O Estado de S. Paulo
Aprovar a anistia no Congresso, antes do fim do julgamento, fecha portas para o diálogo com o STF
Jair Bolsonaro tem uma carta na manga para se
reerguer após a derrota no Supremo Tribunal Federal (STF): ser beneficiado com
indulto ou anistia não agora, mas em 2027, se Tarcísio de Freitas vencer a
eleição presidencial. Para hoje, não tem plano B: o ex-presidente deve ficar
preso até mudar o quadro político do País.
Tarcísio é tão importante para Bolsonaro quanto o inverso. O governador de São Paulo prometeu o perdão ao ex-presidente se for alçado ao Palácio do Planalto nas próximas eleições porque acredita precisar dessa bandeira para chegar lá.
Se optar pela estratégia de libertação do
patriarca em detrimento da vaidade de ter o sobrenome estampado na urna, a
família Bolsonaro apoiará a campanha de Tarcísio. Entre os aliados do
ex-presidente, o governador seria o único com chance de sentar-se à mesa com
ministros do STF e chegar a um acordo.
Faltou combinar o plano com Tarcísio. A
iniciativa de aprovar a anistia no Congresso Nacional antes mesmo do fim do
julgamento, com direito a ataques ao tribunal, fecha portas para o diálogo com
os ministros.
Se for posto em prática hoje, com ou sem
Tarcísio, o projeto de anistia não sobrevive. Se o Congresso aprovar, a ala
governista ou a Procuradoria-Geral da República contestará a medida no STF. Não
é difícil adivinhar que a Corte julgaria inconstitucional o perdão a golpistas
recém-condenados.
Se Tarcísio vencer nas urnas, poderá conceder
indulto a golpistas. Em dois anos, Alexandre de Moraes será presidente do STF.
Se a direita for maioria no Congresso em 2027, poderá abrir um processo de
impeachment contra o ministro. Com Moraes nas mãos dos parlamentares, o
Judiciário e o Congresso precisarão conversar.
Vale lembrar: o mesmo STF que condenou o
entorno do presidente Lula no mensalão em 2012 permitiu que o ex-ministro da
Casa Civil José Dirceu fosse beneficiado em 2016 com indulto concedido por
Dilma Rousseff. Na época, o tribunal não costumava derrubar o perdão decretado
pelo presidente.
Por outro lado, quatro anos depois das
condenações, o escândalo de compra de votos em troca de apoio político
engendrado no primeiro governo Lula era fichinha perto da avalanche de
processos da Lava Jato que tinha aportado na Corte.
A estratégia que a direita pretende levar
adiante pode até funcionar. Mas, ao participar dela, da forma como está posta
hoje, Tarcísio ganha carimbo de simpatizante da trama golpista. Para não
inviabilizar o diálogo com o STF e, ainda assim, herdar o capital político do
capitão, o governador vai precisar encontrar um ponto de equilíbrio entre o
bolsonarismo e o legalismo. Se é que isso é possível. •
Nenhum comentário:
Postar um comentário