Valor Econômico
Depois de ver aprovado projeto que tipifica o
devedor contumaz, ao qual se opôs, federação capitaneia defesa da venda do
Master e abre flanco para vitórias do governo
Por açodada, a federação PP-União arrisca ir
para o calabouço junto com Jair Bolsonaro. Se o ex-presidente, no limite, como
ficou claro nas primeiras sessões de julgamento, tem como horizonte mais
otimista uma pena de 30 anos, a federação, numa sucessão de erros, coloca em
risco o poder de maior bloco partidário.
Depois de se expor na defesa dos devedores contumazes, atingidos pela Operação Carbono Oculto, foi a vez de a federação encabeçar uma investida em defesa da compra do Master pelo BRB com a defesa da prerrogativa do Congresso para demitir diretores do Banco Central. A primeira operação naufragou depois que a operação da PF/MP-SP mostrou o abrigo concedido ao crime organizado pelo devedor contumaz.
O pavor dos parlamentares de serem expostos a
uma sociedade com o PCC zerou a oposição ao projeto que o tipifica e passou no
Senado sem um único voto contrário. Da mesma maneira, com os fundos do Master
nas mãos de gestores atingidos pela Carbono Oculto, vai ser difícil para o
Congresso dar seu aval. No governo, se havia simpatia, da Casa Civil ao BC,
pela operação, ficou impossível defendê-la. Na noite desta quarta, o banco
anunciou o veto à operação.
Com os sócios que o Master arrumou no Congresso,
a oposição à operação não ficou restrita a Renato Gomes. O diretor, um
economista que até vir para o BC produzia estudos sobre regulação financeira
para centros de pesquisa da Europa, foi alvejado até por outdoors patrocinados
por interesses que movem a mídia brasiliense no compasso do novo cangaço.
De tantas frentes abertas para blindar o
indefensável, a federação deixou flancos abertos para o governo aprovar, com
votos do PL, um projeto que abriga R$ 12 bilhões em precatórios na meta e abre
espaço fiscal no ano eleitoral. Não bastasse, ainda fracassou em levar à frente
a PEC da blindagem que deixava os parlamentares fora do alcance do Judiciário.
E não é tudo. Com a quantidade de
computadores e celulares apreendidos nas operações da segunda, além da ordem,
já acatada pela Interpol, para a busca de foragidos, esperam-se novas frentes
que permitam avançar, por exemplo, sobre a lavagem de dinheiro abrigada nas
“bets”. Trata-se de outro flanco que expõe não apenas a federação mas um naco
do Centrão e fatias do mercado mais estabelecidas que fintechs.
Foi em meio a este bombardeio que a federação
anunciou a saída do governo. Foi uma reação com o fígado, órgão que nem Ciro
Nogueira nem Antonio Rueda costumam usar na política, a uma menção desairosa
sobre ambos por Lula na reunião ministerial. O fígado se mostrou mau
conselheiro. O único dos três ministros do União sobre o qual têm ingerência,
Celso Sabino (Turismo), se recusa a deixar o cargo em plena COP30 em sua cidade
natal. Pode acabar trocando de partido. A pressão tampouco altera a Codevasf,
hoje nas mãos do presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Eles ainda correm o
risco de uma fuga de parlamentares que se recusam a ficar ao relento em 2026.
Já o PP pode acabar conseguindo arrancar
André Fufuca dos Esportes, mas o feudo do partido na Caixa Econômica, gerido
pelo ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), permanecerá intocado. A
saideira pode acabar desequilibrando, pró-Lira, o pêndulo do poder que se
alterna entre o deputado e o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do partido.
Conselheiro do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), Ciro já o
colocou numa fria uma vez, ao recomendar que rejeitasse o decreto do IOF,
episódio que acabou precipitando o “8 de janeiro de paletó”.
A briga não é apenas do Centrão com o
governo. É rolo deles com eles mesmos. Como o prefeito de Maceió, João Henrique
Caldas (PL), é candidato ao Senado, Casa na qual Renan Calheiros (MDB)
disputará a reeleição, resta a Lira permanecer na Câmara e tentar retomar a
Mesa, desalojando Hugo Motta (Republicanos-PB). A visita de Lira a Bolsonaro
foi um beija-mão. A Motta só resta a mão de Lula. A de Nogueira, seu padrinho,
tem pouco a lhe oferecer.
A estrela da federação PP-União arrisca a se
apagar precocemente. No espaço gravitacional do governo federal, deve ceder
lugar ao Republicanos e ao PSD. No tarcisismo, a tendência é que a federação
seja ultrapassada pelo PL, partido ao qual o governador de São Paulo deve se
filiar, não importa o cargo que venha a disputar.
No afã de arrebanhar o bolsonarismo, o
governador de São Paulo mete os pés pelas mãos. Para a fatia da política que é
conservadora mas não é bolsonarista, Tarcísio é um nome palatável para se
dividir um palanque, desde que não caia em esparrelas como a de que não confia
na justiça. É paulista por adoção, aliado ao Centrão, personaliza o apoio dos
“ricos” e defende Donald Trump. Não precisa de outros predicados para se
complicar. Arvora-se a defender o bolsonarismo quando não há evidências de que
o ex-presidente abra mão do seu sobrenome na urna.
Tarcísio e o Centrão agarraram-se à anistia
antes mesmo de Bolsonaro ser condenado sem considerar que este possa ser um
presente para Lula. Não é só o STF que pode derrubar a anistia. Qualquer
projeto dessa natureza tem que ser sancionado pelo presidente. Dependendo do
formato que venha a ter, beneficiando golpistas bagrinhos, por exemplo, é Lula
quem, se reeleito, o sancionaria. Promoveria, no início do seu segundo mandato,
a conciliação nacional que lhe escapou neste primeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário