O Estado de S. Paulo
Condenação de Bolsonaro é certa, mas o projeto de anistia ainda está atrás do horizonte
O problema para o “acerto” que se procura
fechar em Brasília é a falta de controle e convergência entre os potenciais
participantes. Por “acerto” entende-se a ação política, na qual o governador de
São Paulo acabou assumindo o papel mais visível, de buscar algum tipo de
anistia benéfica a Bolsonaro. E alcançar o que se chama de “pacificação”.
O preço a ser pago por Bolsonaro é alto: indicar imediatamente fora do seu clã familiar o “herdeiro” de seu cacife eleitoral. Na prática significa abdicar da posição atual de “king maker” – nos termos até aqui conhecidos desse “acerto”, Bolsonaro continuaria inelegível, e precipitaria justamente a situação que tenta evitar, a de uma direita competitiva sem ele.
Nesse sentido, o apelo feito a Trump foi a
pior decisão estratégica possível do agrupamento bolsonarista. Não só pela
dificuldade em se acomodar com vários setores do espectro de centro direita,
que consideram inaceitáveis as interferências da potência estrangeira nos
assuntos brasileiros. Mas também por trazer danos eleitorais, ajudar o
adversário no governo e reforçar a ideia de que os caminhos melhores para o
Brasil não passam por Lula nem por Bolsonaro.
O “acerto” precisaria de termos a serem
combinados de alguma maneira – de preferência informal – com integrantes do
STF. Hoje são termos ainda muito difusos, dentro de uma Corte na qual as
antigas vozes de condução dos grandes assuntos perderam a capacidade de
coordenação, ou mesmo influência. A falta de freio de arrumação em Alexandre de
Moraes é o mais eloquente indício.
Também o STF sofre com falta de liderança.
Problema mais grave ainda dentro do Congresso, para nem se falar o que acontece
fora dele. No amplo espectro de centro direita há vários operadores hábeis num
jogo concentrado na defesa dos interesses diretos de parlamentares, que
consiste em encurralar o governo para manter e ampliar ferramentas de poder e emendas.
Mas não estão até aqui à altura de executar
um “grande jogo” como esse da anistia.
O “acerto” pressupõe que uma “pacificação”
possa significar uma volta a um “normal” que ninguém é capaz de dizer qual
seria, nem quando deixou de existir. Ao contrário, o cenário evoluiu para uma
inédita complexidade que envolve fatores geopolíticos, além da constante
deterioração da relação entre os poderes no Brasil e da notória falta de
lideranças. O que se tem pela frente são águas nunca dantes navegadas.
Serão enfrentadas por gente variada portando
bússolas oscilantes. Nem dá para contar com o GPS controlado pelo Pentágono.
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