sábado, 4 de outubro de 2025

Em defesa do Supremo. Por Oscar Vilhena Vieira

Folha de S. Paulo

Em tempos bicudos, precisamos de tribunais fortes

É hora de aprofundar as reformas iniciadas por Rosa Weber e Luís Roberto Barroso

Passada a borrasca, em que o Supremo Tribunal Federal desempenhou um papel crucial na defesa da ordem constitucional, é chegada a hora de a corte aprofundar uma série de importantes reformas colocadas em marcha pelos ministros Rosa Weber e Luís Roberto Barroso. O objetivo é qualificar o processo deliberativo e reforçar o sistema de precedentes, assim como os mecanismos voltados a assegurar maior transparência e imparcialidade no STF.

A chegada do ministro Edson Fachin à presidência do STF, que coincide com a de Luiz Philipe Vieira de Mello Filho à presidência do TST, assim como com as gestões de Herman Benjamin, no STJ, e Maria Elizabeth Rocha, no STM, abre inúmeras oportunidade para enfrentar os desafios do sistema de Justiça brasileiro. Esse alinhamento de astros na cúpula dos tribunais superiores é auspicioso e não pode ser desperdiçado.

No âmbito do Supremo, alvo dos mais contundentes ataques dos inimigos da Constituição, muitos são os desafios. Isso levou um conjunto de juristas e cientistas sociais, sob os auspícios da Fundação Fernando Henrique Cardoso, a apresentar aos ministros do Supremo e à sociedade brasileira um conjunto de sugestões voltadas a qualificar nossa jurisdição constitucional e reforçar a sua autoridade.

A autoridade do Supremo decorre da Constituição. O seu exercício legítimo depende, no entanto, da capacidade do tribunal de desempenhar suas atribuições de forma objetiva, consistente e imparcial.

Essa não é uma tarefa fácil, tendo em vista a amplitude da Constituição que cumpre ao Supremo guardar, a intensidade das violações à Constituição, bem como a ampliação do acesso ao tribunal, que tem sido sistematicamente demandado a responder questões de enorme repercussão política, econômica e social. Nos últimos 35 anos não houve questão relevante à sociedade brasileira que não tenha sido levada ao Supremo.

Para lidar com essa sobrecarga, ainda mais num contexto de forte polarização política, é essencial que o Supremo consiga mitigar suas vulnerabilidades ao menos em três frentes.

A primeira delas está associada à necessidade de aperfeiçoamento do processo deliberativo do tribunal, com ênfase no fortalecimento da colegialidade em detrimento do protagonismo individual dos gabinetes.

As decisões colegiadas são uma ferramenta indispensável para minimizar erros, vieses e propensões inerentes a qualquer processo decisório. Por isso, a colegialidade constitui um mecanismo indispensável para quem tem a responsabilidade por dar a última palavra.

O STF, por outro lado, tem a função de coordenar o trabalho de mais de 18 mil juízes e 81 tribunais. A ferramenta fundamental para que o direito seja aplicado de forma isonômica e coerente por todas essas instâncias, promovendo a segurança jurídica e a confiança nas relações econômicas e sociais, é o fortalecimento do sistema de precedentes. Quando o STF decide um caso, o que está em jogo não é apenas a solução da questão colocada à sua frente, mas também o estabelecimento dos parâmetros para que todas as demais juízas e juízes do país possam decidir coerentemente em casos semelhante.

Por fim, a autoridade do Supremo está associada à percepção de seus comportamentos por parte de suas diversas audiências. Nesse sentido, não basta que o tribunal decida de forma colegiada, objetiva, coerente e imparcial. É necessário que ele seja capaz de transmitir à sociedade todas essas virtudes. Para que esse objetivo seja alcançado, além de transparência, precisam estar claras as regras que determinam a conduta dos membros do tribunal.

Em tempos bicudos, precisamos de tribunais fortes.

 

 

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